⚖️ Informação em saúde, estigma e escolhas: o que fazer quando a mensagem causa dano?

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Cláudio Cordovil

Pesquisas apontam que o sobrepeso aumenta o risco de ao menos 13 tipos de câncer, incluindo o câncer colorretal e o câncer de mama na pós-menopausa. Essa informação, frequentemente divulgada com o objetivo de promover prevenção, pode parecer simples à primeira vista: mais conhecimento = mais saúde. Mas será mesmo?

A suposição de que basta informar os riscos para que as pessoas ajam ignora uma camada essencial da realidade: o modo como a informação é recebida, interpretada e sentida. Pior: pode reforçar preconceitos e causar sofrimento. Esse é o alerta de uma pesquisa recente conduzida por Åsa Grauman e colegas, com base em entrevistas com pessoas com sobrepeso expostas a mensagens de risco sobre câncer.

🎯 Quando a prevenção se torna um peso

A informação sobre o vínculo entre sobrepeso e câncer tem sido apresentada como uma questão de escolha individual. Essa ênfase na responsabilidade pessoal, porém, pode ter consequências éticas indesejadas. Participantes do estudo relataram sentimentos de angústia, vergonha e desesperança diante de mensagens de saúde pública que, muitas vezes, soam mais como culpa do que como cuidado.

Frases como “manter um peso saudável reduz o risco de câncer” podem, de fato, esconder uma armadilha: ao mesmo tempo em que se deseja prevenir doenças, corre-se o risco de fortalecer o estigma social em torno do corpo fora do padrão. Pessoas com sobrepeso relataram experiências médicas negativas, sensação de serem culpadas por sua condição e descrédito quanto à própria capacidade de agir.

“Ninguém é gordo porque quer”, disse uma das entrevistadas — revelando a distância entre o discurso biomédico racionalizado e a vivência subjetiva do corpo, da saúde e do risco.

🧠 Racionalidade técnica vs. sofrimento vivido

Informar riscos sem considerar os contextos sociais, econômicos e psicológicos das pessoas pode ser contraproducente. A mensagem de risco, quando percebida como acusatória, pode desencadear justamente comportamentos que vão contra a saúde, como episódios de compulsão alimentar ou evitação de serviços de saúde. Além disso, muitos relataram que não recebiam apoio concreto ou empático dos profissionais para lidar com a questão do peso, o que tornava a informação algo abstrato, frustrante e até ofensivo.

Nesse cenário, a falta de suporte é mais grave do que a falta de informação. O que se vê, segundo os autores, é uma lacuna entre os dados disponíveis e as ações possíveis — e essa lacuna se transforma em sofrimento.

💡 Para comunicar sem ferir

O estudo propõe diretrizes fundamentais para uma comunicação ética e eficaz:

  • Reconhecer a complexidade das causas do sobrepeso: fatores genéticos, ambientais, psicológicos e sociais contribuem significativamente, e não podem ser ignorados.
  • Diversificar as estratégias de prevenção, mostrando que existem múltiplas formas de reduzir o risco de câncer (como atividade física, alimentação balanceada, cessação do tabagismo e exames regulares), mesmo sem perda de peso imediata.
  • Empatia e escuta ativa: profissionais devem acolher sem julgamento e oferecer planos individualizados, viáveis e respeitosos.
  • Evitar a culpabilização e considerar que o sofrimento causado por certas mensagens pode superar eventuais ganhos em adesão a comportamentos saudáveis.

🧭 Comunicação em saúde também deve ser ética

O artigo termina com uma provocação fundamental: informar riscos sem medir os efeitos colaterais dessa informação contraria os próprios princípios da saúde pública. Assim como tratamentos clínicos passam por avaliação de custo-benefício e segurança, mensagens de prevenção também deveriam ser pensadas segundo princípios bioéticos: beneficência, não maleficência, autonomia e justiça.

Em tempos de alta exposição a mensagens biomédicas, muitas delas baseadas em estatísticas mas distantes da vida real, torna-se essencial revisar não apenas o conteúdo do que se diz, mas também o modo como se diz — e para quem se diz. A responsabilidade não está apenas em divulgar a verdade, mas em fazer isso com compaixão e humanidade.


Fonte : Overweight increases the risk of cancer – but what good does the information do? / The Ethics Blog

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

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