Recentemente, um estudo publicado na revista Nature gerou desconforto na comunidade científica devido a uma figura que pode ser mal interpretada, reacendendo um debate de longa data entre geneticistas sobre como melhor discutir e representar raça, etnia e ancestralidade genômica. O artigo faz parte do programa “All of Us”, uma iniciativa ambiciosa do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos que visa abordar as desigualdades na pesquisa genética compilando perfis genômicos e de saúde detalhados de um milhão de pessoas nos EUA até o final de 2026.
A figura em questão utiliza um algoritmo chamado UMAP para visualizar relações genéticas e as autodescrições raciais e étnicas dos participantes. Críticos, incluindo o geneticista populacional Jonathan Pritchard da Universidade de Stanford, destacaram que o uso do UMAP pode exagerar a distinção entre populações e falhar em representar adequadamente a sua intermistura. De fato, a variação genética é um continuum, e a ancestralidade genética não pode ser objetivamente dividida em grupos discretos, uma realidade que contradiz a interpretação errônea de que grupos raciais ou étnicos são categorias genéticas distintas.
Alexander Bick, médico e geneticista do Centro Médico da Universidade Vanderbilt e coautor do estudo, defendeu a análise, afirmando que é uma “representação fiel dos padrões existentes nos dados”. No entanto, reconheceu que a figura não atingiu o objetivo pretendido do papel e gerou um debate importante sobre como os dados genéticos são comunicados ao público.
A sensibilidade dos geneticistas à interpretação pública de suas análises aumentou, especialmente após incidentes onde pesquisas genéticas foram citadas em manifestos violentos, como o ataque de 2022 em Buffalo, Nova York.
Em 2022, um homem armado, de 18 anos, em Buffalo, Nova Iorque, tentou justificar o assassinato de 10 negros numa mercearia com um manifesto de 180 páginas que incluía várias citações e números de artigos de genética.
Esse cenário sublinha a importância de uma comunicação responsável dos dados genéticos para evitar apropriações errôneas que possam reforçar crenças racistas ou justificar violência.
O debate em torno desta figura não somente reflete as complexidades inerentes à representação da diversidade humana em pesquisas genéticas, mas também destaca a necessidade urgente de abordagens mais cuidadosas e conscientes. As recomendações de um relatório de 2023 da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA sobre as melhores práticas para o uso de descritores populacionais na pesquisa genética apontam um caminho a seguir, embora o manuscrito em questão tenha sido escrito antes da publicação do relatório.
Este debate acalorado, embora tenso, é saudável para o campo da genética, incentivando os cientistas a ponderarem sobre o potencial de má interpretação de seus trabalhos antes que seja tarde demais. Essa discussão destaca a necessidade contínua de diálogo entre geneticistas, éticos e o público sobre como melhor comunicar a complexa relação entre genética, raça e etnia.
Fonte: ‘All of Us’ genetics chart stirs unease over controversial depiction of race
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4