Um estudo apresentado oficialmente no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Londres, no sábado (31/8), levanta um importante alerta: o uso recreativo de drogas está diretamente ligado a um aumento no risco de complicações cardiovasculares graves, especialmente em pacientes com histórico de problemas cardíacos.
Médicos defendem um monitoramento mais rigoroso desses pacientes, destacando a necessidade de uma abordagem personalizada para evitar novos eventos cardíacos e facilitar a interrupção do uso de substâncias.
A pesquisa coloca em evidência o impacto negativo das drogas recreativas na saúde do coração. Segundo o Dr. Raphaël Mirailles, cardiologista residente no Hospital Lariboisiere, em Paris, é necessário melhorar a detecção do uso dessas substâncias em pacientes hospitalizados por eventos cardiovasculares agudos. Para ele, identificar o uso de drogas como fator de risco pode ser crucial para prevenir futuros problemas cardíacos.
Um dos pontos ressaltados no estudo é o uso crescente de cannabis para fins medicinais. Embora muitos vejam a droga como inofensiva, os resultados da pesquisa sugerem que um acompanhamento cardiológico cuidadoso desses pacientes é essencial.
O estudo realizou testes sistemáticos de urina em pacientes internados em unidades de cuidados intensivos cardíacos. Esses exames mostraram que 11% dos pacientes haviam usado drogas recreativas recentemente, com destaque para o uso de cannabis e opioides, ambos fortemente associados a eventos cardíacos graves. Este é o primeiro estudo a demonstrar tal correlação, segundo Mirailles.
Pesquisas anteriores já haviam apontado que o histórico recente de uso de drogas recreativas aumentava as taxas de mortalidade hospitalar, readmissões e prolongava o tempo de internação. No entanto, ainda restam incertezas sobre os efeitos de longo prazo dessas substâncias no sistema cardiovascular.
Nos Estados Unidos, a crise dos opioides tem causado preocupação, mas a França também não está imune ao problema, com um aumento recente no uso de cannabis e opioides. Mesmo com altos índices de subnotificação, as diretrizes médicas atuais não recomendam a triagem sistemática para o uso de drogas recreativas. Contudo, Mirailles sugere que os médicos considerem esse tipo de exame, pois ele poderia ajudar a classificar os pacientes com base no risco de complicações.
O estudo acompanhou pacientes de 39 centros na França que foram internados em unidades de cuidados intensivos cardíacos em abril de 2021. No total, foram incluídos 1.499 pacientes, dos quais 1.392 tiveram um acompanhamento completo de um ano. A idade média dos participantes foi de 63 anos, e 70% eram homens.
Entre esses pacientes, 157 (11%) testaram positivo para uso recente de drogas como cannabis, opioides, cocaína, anfetaminas e MDMA (princípio ativo do ecstasy). A cannabis foi a substância mais encontrada, com 9,8% dos testes positivos, seguida pelos opioides, com 2,3%.
Após um ano de acompanhamento, 7% dos pacientes sofreram eventos cardiovasculares graves, incluindo morte. Entre aqueles que testaram positivo para drogas recreativas, a taxa de eventos graves foi significativamente maior, atingindo 13%, contra 6% nos não usuários.
A pesquisa ajustou os resultados com base em diversos fatores, como idade, histórico de doenças cardiovasculares, diabetes e tabagismo. Mesmo após esses ajustes, a relação entre o uso de drogas e o aumento do risco cardiovascular permaneceu evidente. No subgrupo de pacientes internados inicialmente com síndrome coronariana aguda, 14% testaram positivo para drogas recreativas, e 7% tiveram eventos cardíacos graves.
Para a cardiologista Leila Haghighat, professora na Universidade da Califórnia, o estudo traz uma importante contribuição para o entendimento da relação entre drogas recreativas e problemas cardiovasculares. “O estudo reforça a necessidade de observarmos atentamente o tipo de droga usada e seus impactos específicos na saúde cardíaca”, afirma. No entanto, ela também ressalta que a pesquisa tem limitações, como o fato de ter sido realizada apenas na França, onde os padrões de consumo podem ser diferentes dos Estados Unidos.
Embora a maconha tenha sido a droga mais consumida, o uso de opioides se destacou por estar fortemente associado a complicações graves, resultando em um risco três vezes maior de complicações cardiovasculares após um ano.
O crescente uso de cannabis, tanto recreativo quanto medicinal, tem levantado preocupações. Segundo a Dra. Leslie Cho, do Cleveland Clinic, muitos acreditam que a maconha é segura por ser legal em diversos estados americanos. No entanto, estudos indicam que os usuários da droga apresentam um maior risco de ataques cardíacos, independentemente da forma de consumo – seja fumada, ingerida ou vaporizada.
Cho reforça que mais pesquisas são necessárias para entender completamente os efeitos da cannabis no sistema cardiovascular. “Embora este estudo não seja definitivo, ele é muito convincente”, conclui, sugerindo que pessoas com fatores de risco, como histórico familiar de doenças cardíacas, hipertensão ou diabetes, conversem com seus médicos antes de usar a substância.
Fonte: Doctors call for closer monitoring of patients who practice recreational drug use / UPI
Imagem gerada por Inteligência Artificial
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4