Bilionários da tecnologia e a ideologia da salvação tecnológica: utopia ou perigo?

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Cláudio Cordovil

🧠 Eles prometem salvar o mundo com inteligência artificial, colonizar Marte e até vencer a morte. Mas será que esses planos visionários escondem algo mais sombrio?

O jornalista e astrofísico Adam Becker lança um alerta poderoso em sua nova obra, More Everything Forever: AI Overlords, Space Empires, and Silicon Valley’s Crusade to Control the Fate of Humanity. Em entrevista à MIT Technology Review, ele revela como bilionários como Sam Altman, Jeff Bezos e Elon Musk usam visões futuristas para justificar o acúmulo de poder, ignorar crises reais e reconfigurar o destino da humanidade sob suas próprias regras.

A promessa de transcendência… e seus riscos

Segundo Becker, o Vale do Silício é guiado por uma “ideologia da salvação tecnológica”, que combina:

  • Fé cega na tecnologia como solução universal;
  • Obsessão por crescimento exponencial;
  • Desejo de superar as limitações humanas, físicas e biológicas.

Essa tríade está por trás de ideias como superinteligência artificial, imortalidade digital, expansão interestelar e até fusões homem-máquina. Para os entusiastas, essas metas são mais que inovação — são uma missão quase espiritual.

Uma visão conveniente para quem já tem tudo

O problema, segundo Becker, é que essa ideologia serve como escudo moral para ações controversas: destruição ambiental, desrespeito à regulação e aumento de desigualdades. Tudo isso é justificado em nome de um futuro supostamente brilhante.

“O crescimento dos seus negócios vira imperativo ético, e qualquer crítica pode ser vista como ‘obstáculo ao progresso’”, afirma o autor.

Ideias antigas com roupagem futurista

Becker conecta essa ideologia a várias correntes filosóficas modernas — como transumanismo, longtermismo e aceleracionismo — e mostra que muitas têm origens preocupantes, como vínculos com eugenia, autoritarismo e até fascismo.

A “Singularidade”, por exemplo, seria a forma mais pura dessa crença: um ponto em que humanos e máquinas se fundem e tudo se torna perfeito. Mas Becker questiona: isso é ciência ou apenas fé mal disfarçada?

Contra a ilusão do inevitável

O autor desafia a narrativa de que o futuro idealizado por esses magnatas é inevitável. Para ele, a verdadeira urgência está em encarar os problemas do presente com responsabilidade e transparência — e não projetar escapismos tecnológicos.

📌 “Quando entendermos que esses sonhos são, na verdade, pesadelos para a maioria, o encanto acaba”, conclui.

Reflexão final: estamos construindo um futuro melhor para todos ou apenas alimentando a fantasia de poucos?


Fonte: Tech billionaires are making a risky bet with humanity’s future / MIT Technology Review (Paywall)

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