Gravidez e deficiência: quando o sistema de saúde falha com quem mais precisa

Foto do autor
Cláudio Cordovil

🧑‍🦽👶 Mulheres com deficiência engravidam na mesma proporção que mulheres sem deficiência. No entanto, enfrentam riscos muito maiores durante a gestação — e isso revela mais do que estatísticas: evidencia uma falha sistêmica no atendimento médico nos EUA.

O preconceito começa na sala de parto

Heather Watkins, mulher com distrofia muscular, ouviu de um médico, logo após dar à luz, a pergunta: “Você tem certeza de que vai conseguir fazer isso?”. Anos depois, ela percebeu: aquela dúvida não era médica, era carregada de preconceito.

Essa realidade não é isolada. Dados do NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) mostram que gestantes com deficiência têm:

  • O dobro de risco de pré-eclâmpsia grave;
  • 11 vezes mais chances de morrer após o parto;
  • Mais cesáreas sem indicação clínica adequada.

Falta de preparo profissional

Menos de 20% dos ginecologistas e obstetras afirmam ter recebido treinamento sobre cuidados a pessoas com deficiência. Essa lacuna compromete o atendimento e pode gerar atrasos ou erros graves no diagnóstico e tratamento, como relatam diversas mulheres no texto.

O impacto do estresse e do preconceito

Para mulheres negras e com deficiência, como Watkins, os riscos são amplificados por camadas de racismo, misoginia e capacitismo. O estresse, provocado por esse ambiente hostil, pode afetar o sistema endócrino e imunológico, agravando condições como a pré-eclâmpsia.

Casos que escancaram a negligência

Mulheres como Syanne Centeno-Bloom e Myisha Malone-King perderam trompas de falópio por diagnósticos errados ou tardios — muitas vezes por médicos que ignoraram sinais claros ou atribuíram os sintomas às deficiências preexistentes.

O legado da eugenia e a mudança urgente de narrativa

Monika Mitra, do Instituto Lurie de Políticas sobre Deficiência da Universidade Brandeis, lembra que as raízes da exclusão vêm da história da eugenia. Ainda hoje, pessoas sob tutela podem ser esterilizadas à força em alguns estados dos EUA.

O desafio é mudar essa narrativa: pessoas com deficiência têm o direito de ser mães, de não ser mães — e de receber cuidados adequados para isso.

Caminhos para transformação

Avanços tímidos surgem:

  • Novas diretrizes clínicas do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas;
  • Programas universitários com foco em deficiência, como os da Universidade de Michigan e UCSF;
  • Estudos e formações lideradas por pessoas com deficiência, como o próprio Instituto Lurie.

Mas os especialistas alertam: mudanças estruturais nos currículos médicos podem levar até 15 anos.

📌 Conclusão: O problema não está nos corpos das mulheres com deficiência, mas no despreparo e nos vieses do sistema de saúde. Garantir cuidado digno e centrado no paciente é uma urgência bioética — e uma questão de justiça reprodutiva.


Fonte: Pregnancy Is a Minefield When You’re Disabled / Mother Jones

Deixe um comentário