O uso de avatares de pessoas falecidas criados por inteligência artificial, popularmente chamados de deadbots, tem avançado para contextos que vão muito além da homenagem pessoal — e já está sendo discutido como a próxima fronteira de monetização da IA.
De homenagens a discursos persuasivos
Exemplos recentes mostram como esses avatares podem ser usados com forte apelo emocional:
- A família de Joaquin Oliver, vítima do massacre de Parkland (EUA), criou um avatar para que ele “concedesse” uma entrevista defendendo leis mais rígidas sobre armas.
- Um deadbot de Chris Pelkey, morto em um caso de violência no trânsito, foi usado em tribunal para fazer uma declaração de impacto à sentença do agressor. O juiz classificou o depoimento como “genuíno”.
Essas iniciativas reforçam o poder persuasivo dos deadbots — especialmente quando há semelhança de voz e aparência, tornando a experiência mais imersiva.
Uma indústria bilionária e crescente
O chamado mercado de pós-vida digital, que inclui a criação de deadbots, deve alcançar US$ 80 bilhões nos próximos 10 anos. Para pesquisadores como James Hutson, da Lindenwood University, a monetização é inevitável: “Já nos acostumamos com anúncios até mesmo em serviços pagos de streaming. Por que não com deadbots?”, provoca.
Riscos éticos e legais no horizonte
Apesar do entusiasmo de alguns setores da indústria, juristas e especialistas em ética estão em alerta. A legislação norte-americana é fragmentada e não dá conta das implicações profundas dessa prática, especialmente em termos de:
- Privacidade póstuma
- Consentimento prévio do falecido
- Responsabilização por usos indevidos da imagem e voz
Segundo o advogado Jeffrey Rosenthal, ainda estamos lutando para garantir os direitos de privacidade dos vivos — o que dirá dos mortos.
Um futuro incerto, mas lucrativo
Empresas como a StoryFile já admitem testar inserções publicitárias em conversas com deadbots, ou até utilizar os diálogos para extrair preferências dos usuários, com potencial de segmentação de anúncios. Mesmo com o desconforto ético, o apelo comercial parece superar as reservas morais, ao menos entre alguns players do setor.
🔍 Reflexão bioética: O uso de deadbots revela um novo tipo de dilema moral no qual o luto, a memória e o marketing se cruzam. A tecnologia, mais uma vez, se antecipa à legislação — e à ética coletiva — em nome da inovação e do lucro. O que estamos dispostos a aceitar em nome da “imortalidade digital”?
Fonte: AI ‘deadbots’ are persuasive — and researchers say they’re primed for monetization / NPR
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial