A possibilidade de prever quando uma pessoa morrerá sempre esteve restrita ao campo da ficção científica e da especulação. No entanto, um estudo recente, publicado em dezembro na revista Nature Computational Science, sugere que a inteligência artificial (IA) está aproximando essa possibilidade da realidade.
Intitulado “Usando Sequências de Eventos da Vida para Prever Vidas Humanas“, o estudo conduzido por cientistas sociais dinamarqueses e americanos, desvendou padrões em grandes conjuntos de dados para prever com notável precisão a probabilidade de morte de uma pessoa nos próximos quatro anos.
O trabalho rapidamente se tornou viral, alimentando debates acalorados e gerando preocupações sobre as implicações éticas de tais previsões. Sune Lehmann, um dos autores do estudo e professor de redes e ciência da complexidade na Universidade Técnica da Dinamarca, expressou surpresa com a atenção recebida pelo estudo, que, segundo ele, foi mal interpretado como uma espécie de “calculadora fatalista” pela IA.
O cerne do estudo, porém, não se centra na previsão da morte, mas na integração da IA com as ciências sociais. Ele revela padrões intrincados e correlações na vida cotidiana das pessoas, proporcionando insights valiosos sobre como vivemos.
Os pesquisadores utilizaram dados de 2008 a 2015, excluindo eventos recentes como a pandemia, para analisar sequências de eventos da vida em grande escala. Esta abordagem inovadora destaca o potencial da IA em auxiliar no entendimento da sociedade e na melhoria da gestão de serviços sociais.
A pesquisa foi possível graças à confiança depositada pelos cidadãos dinamarqueses em seu governo e nas instituições de pesquisa. O estudo utilizou dados coletados pela Statistics Denmark, uma agência estatal fundada em 1966, que mantém registros detalhados sobre diversos aspectos da vida dos cidadãos dinamarqueses.
Esses dados são disponibilizados para pesquisadores de universidades dinamarquesas, desde que sejam anonimizados para proteger a privacidade individual.
A análise conduzida pelos pesquisadores transformou esses dados em tokens, permitindo à IA identificar padrões e correlações entre eventos da vida, como níveis de renda, saúde e educação. Esse processo revelou uma visão ordenada e detalhada da vida moderna na Dinamarca, desafiando a noção de que a vida humana é imprevisível e única.
Um aspecto crucial do estudo é a conformidade com as rigorosas leis de privacidade digital da União Europeia. Isso contrasta fortemente com a abordagem fragmentada dos Estados Unidos em relação à privacidade digital, destacando as diferenças culturais e institucionais na gestão de dados pessoais.
Em última análise, a pesquisa vai além da previsão da morte, tocando em questões mais profundas sobre a natureza humana e a sociedade. Ela sugere que, apesar de nossas percepções de individualidade e singularidade, muitos aspectos de nossas vidas são previsíveis e repetitivos. Este reconhecimento desafia a ideia de que os seres humanos são demasiado complexos e “mágicos” para serem compreendidos por máquinas.
O estudo deixa uma reflexão pertinente: se a IA pode prever os resultados de nossas escolhas com precisão crescente, continuaremos a tomar as mesmas decisões ou teremos a coragem de mudar de rumo e buscar novos caminhos? A resposta a essa pergunta pode redefinir nossa compreensão da vida humana e da sociedade em uma era dominada pela tecnologia.
Fonte: A new AI predicts when we’ll die. It says even more about how we live.
Imagem gerada por Inteligência Artificial
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4