O corpo de bailarina está em alta nos EUA, segundo especialistas em cirurgia plástica e cultura corporal. Esse novo padrão de corpo, mais esguio e tonificado, resgata um ideal de magreza que já esteve em voga em décadas passadas. Mas o que significa essa mudança e quais são suas implicações? De acordo com o relatório anual de 2023 da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS), o “corpo de bailarina” foi apontado como a nova tendência estética.
Nas últimas décadas, os padrões estéticos femininos variaram significativamente. Nos anos 1980, corpos musculosos e tonificados eram o ideal, enquanto nos anos 1990 a controversa “heroin chic” glorificava uma magreza extrema. Na década passada, a moda era ter um corpo curvilíneo, com ênfase no aumento dos glúteos, impulsionado pelo “Brazilian Butt Lift” (BBL) e popularizado por celebridades como as Kardashians. Agora, parece que estamos caminhando de volta para a valorização de um corpo mais magro e delicado, chamado de “corpo de bailarina”.
A ascensão desse novo ideal de corpo magro está diretamente ligada ao uso crescente de medicamentos para emagrecimento como Ozempic e Wegovy, originalmente desenvolvidos para o tratamento de diabetes, mas que se tornaram populares devido ao seu efeito de perda de peso. Esses medicamentos revolucionaram o acesso à magreza para pessoas com recursos financeiros suficientes, impulsionando essa tendência de corpo esguio.
De acordo com a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, o “corpo de bailarina” combina magreza com definição muscular, uma estética que ganhou força após a pandemia, quando muitas pessoas se concentraram mais em saúde e fitness. No entanto, o uso desses medicamentos levanta questões importantes, pois eles promovem uma idealização de corpos que só são acessíveis para uma parcela privilegiada da sociedade.
Nos últimos anos, as cirurgias mais procuradas nos Estados Unidos foram lipoaspiração, mamoplastia e abdominoplastia. No entanto, o presidente da ASPS, Steven Williams, observou uma mudança no tamanho dos implantes mamários e uma preferência crescente por corpos menos curvilíneos e mais magros. Essa mudança é vista como uma resposta à saturação do corpo curvilíneo, que dominou as redes sociais e a cultura popular por tanto tempo. Agora, o corpo de bailarina surge como um contraste, trazendo um ideal mais “limpo” e esguio.
Embora alguns especialistas vejam essa tendência como um reflexo natural das mudanças estéticas, outros expressam preocupações sobre o impacto negativo desse retorno à magreza. Kéra Nyemb-Diop, cientista de nutrição, afirma que, após um período de aceitação do corpo positivo, estamos assistindo a um retrocesso que pode prejudicar a autoestima e a saúde mental, especialmente entre mulheres jovens. Estudos já demonstraram a relação entre a exposição a imagens de magreza extrema e o desenvolvimento de distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia. Assim, a volta de uma estética que glorifica a magreza pode aumentar a pressão para que as mulheres busquem corpos inalcançáveis de maneira pouco saudável.
Diferente de décadas passadas, em que revistas e televisão ditavam os padrões de beleza, hoje as redes sociais têm um papel central na disseminação dessas tendências. Heather Radke, autora de um livro sobre a história dos padrões corporais, observa que estamos na era das microtendências e dos algoritmos personalizados, o que fragmenta os ideais de beleza. Isso significa que, apesar da ascensão do corpo de bailarina, ainda há espaço para a aceitação de outros tipos de corpos, como os movimentos de body positivity e fat acceptance, que continuam a crescer em diferentes espaços na internet.
Por outro lado, as redes sociais reforçam o ciclo incessante de novas modas, aumentando a pressão sobre as mulheres para se adaptarem constantemente a novos padrões. As influências não vêm apenas da moda e do cinema, mas também de novas práticas esportivas, como a popularização do estilo “tenniscore“, inspirado em Zendaya no filme “Challengers“.
Rokeshia Renné Ashley, professora e estudiosa da imagem corporal, destaca que, apesar da pressão externa, muitas mulheres se sentem empoderadas por poderem escolher como moldar seus corpos. Para ela, as tendências corporais podem coexistir com o direito das mulheres de se sentirem bem com as modificações que desejam fazer. No entanto, essa liberdade vem com o desafio de equilibrar a escolha pessoal com as imposições culturais. O ideal seria que as mulheres pudessem exercer sua autonomia corporal sem a pressão de seguir tendências que podem não ser saudáveis ou acessíveis para todas.
As tendências de padrões corporais sempre passaram por ciclos e, como apontam estudiosos, esses ciclos são influenciados por questões políticas, raciais, de classe e de gênero. O que vemos hoje com o corpo de bailarina pode ser apenas mais uma fase nessa longa história de mudanças nos padrões de beleza.
Seja qual for a tendência do momento, o mais importante é lembrar que a beleza é subjetiva e mutável. Como observou a comentarista cultural Khadija Mbowe, o corpo que está na moda hoje pode não ser o ideal de amanhã. O essencial é buscar o bem-estar e a saúde, independentemente do que as redes sociais e a cultura popular possam ditar.
Fonte: Plastic surgeons say the ‘ballet body’ is in. Here’s what that means / Washington Post