O governo dos Estados Unidos está pensando em usar reconhecimento facial para acompanhar a identidade de crianças migrantes à medida que elas crescem. John Boyd, que lidera o Escritório de Gestão de Identidade Biométrica (OBIM), explica que a ideia é garantir que essas crianças possam ser identificadas ao longo dos anos, mesmo que seus rostos mudem com o tempo.
Usar reconhecimento facial em crianças não é algo simples. Primeiro, porque os dados disponíveis para treinar os sistemas são limitados e muitas vezes de baixa qualidade. E tem mais: a questão da privacidade e do consentimento, especialmente quando falamos de menores de idade, torna tudo ainda mais delicado.
O DHS está tentando entender como identificar crianças desde a infância até a adolescência. Isso é especialmente importante porque, só em 2022, mais de 339 mil crianças chegaram à fronteira entre os EUA e o México. Dessas, 150 mil estavam sozinhas. Se uma parte dessas crianças tiver seus rostos registrados, isso criaria um dos maiores bancos de dados de rostos infantis do mundo.
Ampliar o uso de reconhecimento facial para menores é uma questão complicada, principalmente num contexto em que as leis de privacidade são bastante rigorosas. Boyd comentou que algumas divisões do DHS removeram as restrições de idade para coletar dados biométricos, mas a polêmica é grande. Depois que essas intenções vieram a público, o DHS afirmou que, por enquanto, não planeja coletar imagens de menores de 14 anos, destacando seu compromisso com a privacidade e os direitos civis.
Grupos de direitos dos imigrantes e políticos contrários a essas políticas estão preocupados. Para eles, isso pode ser mais um passo rumo a um “estado de vigilância”, onde as crianças migrantes seriam monitoradas de forma invasiva e sem transparência.
O grande desafio do reconhecimento facial em crianças é que seus rostos mudam muito conforme crescem. Isso dificulta a precisão dos algoritmos atuais. Por isso, há uma demanda crescente por dados de alta qualidade para melhorar essa tecnologia. Pesquisas feitas por centros especializados, como o Center for Identification Technology Research (CITeR), indicam que é possível reconhecer crianças depois de alguns anos, mas esses estudos ainda são limitados em termos de tamanho e diversidade.
Embora o DHS diga que leva a sério a privacidade e não compartilha dados com empresas privadas, a possibilidade de que essa tecnologia possa ser usada comercialmente para rastrear crianças é uma preocupação real. Além disso, usar grupos vulneráveis, como os migrantes, para testar novas tecnologias levanta questões éticas importantes sobre consentimento e justiça.
O desenvolvimento dessas tecnologias em áreas de fronteira, onde a fiscalização é mínima, transforma essas regiões em laboratórios para experimentos que talvez não fossem permitidos em outros lugares. O que começa nas fronteiras, porém, pode facilmente se expandir para outras áreas, o que aumenta a necessidade de mais transparência e responsabilidade.
Fonte: The US wants to use facial recognition to identify migrant children as they age / MIT Technology Review
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial