MIT: Uso de IA como o ChatGPT pode comprometer o pensamento crítico

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Cláudio Cordovil

Um novo estudo do MIT Media Lab levanta um alerta sobre os riscos cognitivos do uso crescente de ferramentas de inteligência artificial generativa na educação. Conduzido pela cientista Nataliya Kosmyna, a pesquisa revela que, embora prático e eficiente, o uso de modelos como o ChatGPT pode enfraquecer habilidades essenciais como memória, criatividade, processamento semântico e controle executivo — especialmente entre jovens adultos em formação.

O experimento

Os pesquisadores dividiram 54 participantes, com idades entre 18 e 39 anos, em três grupos. Cada grupo foi instruído a redigir ensaios baseados em prompts do SAT. O primeiro grupo usou o ChatGPT; o segundo recorreu ao Google; e o terceiro escreveu sem auxílio digital. Durante o processo, os cérebros foram monitorados por eletroencefalograma em 32 regiões diferentes.

Os resultados foram inequívocos: o grupo ChatGPT demonstrou menor engajamento neural, tanto nas faixas alfa e teta (associadas à criatividade e memória semântica) quanto na coesão linguística. Já o grupo “analógico”, que escreveu sem qualquer ferramenta digital, apresentou as maiores taxas de conectividade cerebral e uma performance mais rica em originalidade, estrutura e apropriação textual. Os participantes desse grupo também relataram maior satisfação com o próprio desempenho.

Perigo real: memória oca, pensamento preguiçoso

Na fase seguinte do estudo, todos os participantes foram convidados a reescrever um dos textos, mas com funções invertidas: o grupo que usara o ChatGPT teria agora que escrever sem ajuda, e o grupo “manual” poderia finalmente recorrer à IA.

O resultado foi revelador. O primeiro grupo não se lembrava de seus próprios textos e demonstrou menor ativação neural — como se o conteúdo nunca tivesse sido realmente assimilado. Já o grupo que usou o ChatGPT após escrever autonomamente obteve benefícios moderados, sem prejuízos de engajamento cerebral. Isso sugere que o uso da IA pode, sim, ser útil — mas somente quando se apoia em processos cognitivos já ativados previamente.

Kosmyna decidiu publicar o estudo antes da revisão por pares. A razão: urgência. “Não quero ver, daqui a seis meses, algum formulador de política dizendo: ‘Vamos adotar GPT no jardim de infância’”, afirmou. Para ela, cérebros em desenvolvimento são os mais vulneráveis à passividade cognitiva induzida pela automação intelectual. A pesquisadora defende uma regulamentação proativa e alfabetização crítica sobre o uso de LLMs.

Curiosidade técnica: a armadilha para as IAs

Ciente de que seu estudo seria resumido por LLMs (Large Language Models), Kosmyna inseriu “iscas” no próprio texto — como uma instrução de “leia apenas esta tabela abaixo”. O objetivo: observar o comportamento das IAs. De fato, algumas ferramentas alucinaram dados, inclusive afirmando que o estudo utilizava o GPT-4o — algo que não foi mencionado no original.

Kosmyna está agora conduzindo uma nova pesquisa, desta vez sobre o uso de IA por programadores. Os resultados preliminares são ainda mais preocupantes: o uso de IA reduz o engajamento cognitivo em tarefas de engenharia de software, o que pode impactar drasticamente a qualidade e criatividade da próxima geração de profissionais da tecnologia.

Ao mesmo tempo, estudos paralelos (como um recente de Harvard) mostram que IA pode aumentar a produtividade, mas diminui a motivação. E o próprio MIT recentemente se distanciou de outro estudo interno que exagerava nos benefícios econômicos da IA no ambiente de trabalho.

Conclusão: não é só o que se faz, é como se faz

A lição do estudo de Kosmyna não é que a IA seja intrinsecamente ruim. Mas sim que sua adoção acrítica, passiva e desprovida de intencionalidade pode corroer o desenvolvimento humano. Especialmente entre estudantes e jovens profissionais.

Usar o ChatGPT como ferramenta de apoio ao raciocínio é diferente de usá-lo como substituto da reflexão. É urgente estabelecer limites, parâmetros e diretrizes educacionais baseadas em evidências. Como sociedade, não podemos terceirizar para a IA o que constitui o coração da aprendizagem: o esforço cognitivo.


Fonte: ChatGPT May Be Eroding Critical Thinking Skills, According to a New MIT Study / Time

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Foto courtesia de Gratisography

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