Vivemos em uma era em que a tecnologia está evoluindo a uma velocidade impressionante. Com isso, cada vez mais pessoas estão começando a confiar na inteligência artificial (IA) para tomar decisões importantes. Mas será que deveríamos realmente deixar que algoritmos decidam por nós em questões de vida ou morte? Um caso recente na Bélgica levanta sérias dúvidas. Um homem tirou a própria vida, supostamente influenciado por um chatbot. Esse incidente provocou um intenso debate na Holanda sobre o uso da IA em decisões envolvendo suicídio assistido. Ao mesmo tempo, pesquisadores estão usando IA para prever as chances de sobrevivência de pacientes com câncer terminal, o que pode influenciar na decisão de abandonar tratamentos difíceis nos últimos dias de vida.
Essa crescente confiança na IA para decisões tão delicadas é preocupante. Lembro-me de uma situação em particular: uma vez, uma professora me perguntou, sabendo que eu era cientista da computação, se meus algoritmos poderiam dizer o melhor momento para ela tirar a própria vida. Ela não estava em risco imediato, mas tinha medo do avanço do Alzheimer e queria um modelo que a ajudasse a decidir quando encerrar sua vida antes de perder o controle.
Embora situações como essa sejam raras, é cada vez mais comum encontrar pessoas que esperam que a tecnologia possa eliminar as incertezas da vida. Um exemplo disso é um algoritmo criado por pesquisadores dinamarqueses, apelidado de “calculadora da desgraça”. Esse algoritmo prevê a probabilidade de morte de uma pessoa nos próximos quatro anos com uma precisão de mais de 78%. E claro, logo surgiram imitadores online prometendo prever a data da morte de qualquer um.
A ideia de um computador nos dizendo quando morrer não é nova. Já apareceu em piadas de “Seinfeld”, histórias de ficção científica, e até em filmes de terror. Mas a realidade? Mesmo com todo o avanço da IA, ainda estamos longe de ter uma bola de cristal. Como cientista da computação, eu me mantenho cético sobre as promessas da IA. Esses algoritmos podem ser úteis para prever quantas pessoas morrerão em uma comunidade em determinado período, mas prever o futuro de uma pessoa específica é outra história.
Nossa compreensão das doenças está sempre mudando. No passado, ninguém sabia que o tabagismo causava câncer. Quando essa ligação foi descoberta, as previsões de saúde mudaram completamente. Da mesma forma, novos tratamentos podem mudar tudo. Por exemplo, a expectativa de vida de pessoas com fibrose cística aumentou significativamente nos últimos anos, graças a novos medicamentos e terapias genéticas.
Para quem busca certezas, isso pode ser frustrante. Mas, quanto mais estudo como as pessoas tomam decisões baseadas em dados, mais acredito que a incerteza não é necessariamente ruim. Em muitas situações, mais informações não resultam em decisões melhores, mas sim em mais insegurança. Previsões de desfechos negativos podem nos fazer sentir impotentes, enquanto a incerteza nos permite imaginar um futuro melhor.
Claro, a IA pode ser muito útil em situações de baixo risco, como recomendar filmes na Netflix. Mesmo em situações de risco moderado, como na aviação, a IA é vital, ajudando a evitar colisões e salvar vidas. Mas o problema surge quando começamos a confiar nessas ferramentas para substituir nosso próprio julgamento. A IA pode ser ótima em identificar padrões, mas nunca poderá substituir a capacidade humana de tomar decisões complexas.
Precisamos aprender a viver com as incertezas da vida, assim como os médicos fazem ao cuidar de seus pacientes. As decisões mais importantes das nossas vidas devem continuar sendo nossas, não de uma IA insensível. Como disse o poeta Rainer Maria Rilke, devemos aprender “a amar as questões”. Embora seja difícil não saber quanto tempo viveremos ou como será nosso futuro, são essas incertezas que nos tornam humanos.
Em vez de esperar que a IA nos dê respostas para as questões mais difíceis da vida, precisamos valorizar o fato de que as decisões mais importantes ainda estão em nossas mãos. Afinal, é essa responsabilidade que nos define como seres humanos.
Fonte: Opinion: Don’t Ask AI to Make Life-and-Death Decisions / Undark
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial