📋 O prontuário eletrônico nos EUA: uma revolução incompleta e cheia de lições

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Cláudio Cordovil

Um artigo extenso publicado pela IEEE Spectrum traça um panorama aprofundado dos 20 anos de digitalização dos prontuários de saúde nos Estados Unidos. Com um investimento de mais de 100 bilhões de dólares desde 2004, a promessa era clara: transformar o sistema de saúde norte-americano com registros eletrônicos de saúde (EHRs, na sigla em inglês) acessíveis, interoperáveis e seguros. O que se tem hoje, no entanto, é um cenário muito mais complexo — e frustrante.

De promessa a paradoxo

O caso que abre o texto — o de Cheryl e Tom Conrad — ilustra bem os avanços: hoje, o casal pode contar com um acesso rápido ao histórico de saúde de Tom, algo impensável duas décadas atrás. Mas isso contrasta com a realidade de milhões de pacientes que acumulam diversos prontuários em sistemas que não se comunicam entre si. Médicos, por sua vez, gastam em média quatro horas e meia diárias apenas preenchendo dados digitais, o que compromete o tempo com os pacientes e aumenta o risco de burnout.

Interoperabilidade: a peça que faltava

Apesar do aumento exponencial de adoção de EHRs (80% dos médicos em 2021), a interoperabilidade — ou seja, a capacidade dos sistemas conversarem entre si — ainda é um desafio enorme. Muitos hospitais operam com dezenas de fornecedores diferentes e até hoje não existe um identificador único de paciente (como o CPF no Brasil), dificultando ainda mais o intercâmbio de dados. O Congresso dos EUA, por questões de privacidade e política, proibe o uso de um identificador único desde 1998.

Burnout, produtividade e “vampiros digitais”

O texto traz dados alarmantes: 71% dos médicos atribuem aos EHRs parte do seu esgotamento profissional. As interfaces são mal desenhadas, as exigências burocráticas cresceram e há um claro descompasso entre o que os sistemas exigem e o que efetivamente entregam. Não é à toa que clínicas recorrem a escribas para acompanhar consultas e registrar informações — um paliativo que evidencia o problema.

Segurança: o calcanhar de Aquiles

A segurança digital foi um aspecto negligenciado na pressa de digitalizar o sistema. Desde 2009, mais de 520 milhões de registros de saúde foram expostos em vazamentos. Em 2024, o custo médio de uma violação de dados de saúde nos EUA chegou a quase US$ 10 milhões. O impacto vai além dos custos: vários hospitais tiveram suas atividades comprometidas por semanas após ataques cibernéticos.

O futuro: será que a inteligência artificial resolve?

Apesar de todos os percalços, há esperança. Tecnologias baseadas em IA, como os “escribas virtuais”, estão permitindo que médicos retomem o contato direto com pacientes enquanto a IA redige as anotações. Além disso, novas regulamentações de interoperabilidade (como o Trusted Exchange Framework and Common Agreement, ou TEFCA) e melhorias em APIs podem, finalmente, destravar o potencial prometido décadas atrás.

Conclusão

O texto é claro: ninguém quer voltar aos tempos do papel. Mas o entusiasmo inicial com os EHRs levou a decisões apressadas e a subestimar a complexidade técnica e humana envolvida. O saldo? Uma revolução digital ainda em construção, que exige mais do que tecnologia: requer planejamento sistêmico, usabilidade centrada no humano e uma governança que priorize o cuidado, e não apenas o controle.

🔎 Para quem trabalha com políticas públicas, saúde digital ou bioética, este artigo é leitura essencial para compreender as armadilhas e potenciais de um sistema de saúde digitalizado.


Fonte: “The Doctor Will See Your Electronic Health Record Now” / IEEE Spectrum

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

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