Uma investigação conduzida pelo The New York Times trouxe à tona um aspecto sombrio da crise de opioides nos Estados Unidos. Empresas farmacêuticas, como a Purdue Pharma, pagaram secretamente a intermediários do setor de saúde, conhecidos como gestores de benefícios farmacêuticos (PBMs), para evitar restrições no acesso a analgésicos altamente viciantes.
Esses PBMs, que têm enorme influência sobre quais medicamentos os planos de saúde cobrem, muitas vezes barganharam com as farmacêuticas, priorizando rebates financeiros (descontos condicionais) em vez de medidas de segurança para prevenir o abuso de opioides.
O Papel dos PBMs na Epidemia de Opioides
Os gestores de benefícios farmacêuticos, como Express Scripts, CVS Caremark e Optum Rx, controlam o acesso a medicamentos para mais de 200 milhões de americanos. Sua função deveria ser negociar descontos com as farmacêuticas para reduzir custos, mas documentos revelam que muitas vezes eles maximizavam seus próprios lucros, aumentando o custo para pacientes e planos de saúde.
No caso dos opioides, essas empresas aceitaram pagamentos significativos para evitar a imposição de limites, como autorizações médicas adicionais ou restrições ao número de comprimidos prescritos. Isso resultou em uma ampla disponibilidade de medicamentos como o OxyContin, mesmo durante o auge da crise de overdose no país.
Estratégias das Farmacêuticas
A Purdue Pharma, fabricante do OxyContin, adotou uma estratégia explícita para manter o medicamento amplamente disponível: oferecer rebates aos PBMs para que não aplicassem restrições. Documentos internos da empresa mostram que esses acordos foram cruciais para sustentar o alto volume de vendas, mesmo com o crescente número de mortes relacionadas ao abuso de opioides.
Outras empresas, como a Mallinckrodt, seguiram táticas similares, pagando para evitar restrições impostas por seguradoras e outros stakeholders. Esses pagamentos incentivaram médicos a prescreverem mais opioides sem obstáculos administrativos ou limites rigorosos de dosagem.
Impacto na Crise de Saúde Pública
Entre 2003 e 2012, a Purdue dobrou os valores pagos aos PBMs, alcançando US$ 400 milhões anuais em rebates. Mesmo diante de evidências claras sobre os riscos de doses altas, os PBMs continuaram a negociar contratos que permitiam quantidades excessivas de opioides, muito acima dos limites recomendados por órgãos reguladores como a FDA.
A falta de restrições alimentou a epidemia de opioides, que já resultou em dezenas de milhares de mortes nos Estados Unidos. A investigação do The New York Times mostra que medidas preventivas poderiam ter sido implementadas muito antes, como evidenciado por programas isolados de seguradoras que conseguiram reduzir prescrições inadequadas.
Restrições Só Chegaram Tarde Demais
Pressões do governo e diretrizes do CDC em 2016 finalmente levaram os PBMs a adotar programas de restrição. Entretanto, mesmo essas iniciativas enfrentaram resistência interna devido ao impacto negativo nos lucros. Um exemplo citado na investigação mostra que, em 2017, executivos da Optum Rx discutiram o adiamento de restrições para evitar perdas financeiras relacionadas aos rebates.
Somente em anos recentes os PBMs começaram a implementar controles mais rígidos, como a limitação de doses e a exigência de autorizações para opioides de longa duração. Apesar disso, a demora em agir teve consequências devastadoras para milhões de americanos.
Reflexões Finais
Essa investigação destaca a necessidade de maior transparência no setor farmacêutico e de mudanças estruturais no modelo de atuação dos PBMs. O equilíbrio entre lucro e segurança precisa ser urgentemente revisto, especialmente em um contexto de saúde pública tão crítico quanto a epidemia de opioides.
Embora medidas tardias tenham sido implementadas, a conivência entre PBMs e fabricantes de opioides nos anos iniciais da crise ajudou a consolidar um dos maiores desastres de saúde pública da história norte-americana.
⚠️ A questão ética levantada por este caso não pode ser ignorada: como corporações de saúde que deveriam proteger os pacientes podem priorizar lucros em detrimento da vida humana?
Fonte: Giant Companies Took Secret Payments to Allow Free Flow of Opioids / The New York Times
Imagem gerada por Inteligência Artificial
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4