O Desafio da Eutanásia em Pacientes com Alzheimer nos Países Baixos

Foto do autor
Cláudio Cordovil

Nos Países Baixos, a eutanásia é legal para pacientes com Alzheimer que fizeram um pedido antecipado. No entanto, a realidade é mais complexa: mesmo com a permissão legal, muitos médicos se recusam a realizar o procedimento em pessoas que já perderam sua capacidade cognitiva.

Esse é o dilema vivido por Irene Mekel, de 82 anos, que foi diagnosticada com Alzheimer há um ano. Ela deseja uma morte assistida antes que a doença avance a ponto de tirá-la de sua casa e de sua independência. Contudo, enfrenta dificuldades para encontrar um médico disposto a ajudá-la.

O “Momento 5 para Meia-Noite”

O conceito de “cinco para meia-noite” é usado por médicos holandeses para definir o momento exato em que um paciente com demência ainda é capaz de confirmar sua vontade de morrer. Se esse momento for ultrapassado, dificilmente um médico aceitará realizar a eutanásia, mesmo que haja um pedido escrito.

Esse dilema levou Mekel a buscar ajuda no Centro de Especialistas em Eutanásia, em Haia, que orienta médicos sobre os seus parâmetros legais. No entanto, até mesmo esses profissionais são cautelosos ao lidar com pacientes que perderam a capacidade de consentimento.

O Caso Que Mudou a Percepção Pública

A relutância dos médicos holandeses em realizar a eutanásia em pacientes com Alzheimer se intensificou após o chamado “Caso do Café”, ocorrido em 2016. Na época, uma médica administrou um sedativo no café de uma paciente com demência avançada e, durante o procedimento final, a família precisou contê-la para concluir a eutanásia. A médica foi absolvida em 2019, mas o impacto desse caso reforçou a resistência dos médicos a realizarem eutanásia sem consentimento direto no momento da morte.

A Frustração de Quem Planejou a Morte com Antecedência

O sistema holandês permite que pacientes façam testamentos de vida detalhando as condições em que desejam morrer. Estima-se que 500 mil pessoas nos Países Baixos tenham esse tipo de documento, incluindo Mekel. No entanto, a prática tem se mostrado muito mais restrita do que a teoria.

Mekel enfrenta a pressão de escolher sua morte antes do que gostaria, temendo perder o “momento certo” e acabar em uma casa de repouso, como aconteceu com sua melhor amiga, Jean.

Por outro lado, familiares de pacientes que ultrapassaram esse ponto relatam que muitos acabam se adaptando e tendo qualidade de vida, mesmo com demência avançada. O filho de Jean, por exemplo, afirma que, apesar de sua mãe inicialmente desejar a eutanásia, ela teve bons anos no lar de idosos, aproveitando a leitura e o sol.

Um Debate Bioético Complexo

O dilema de Mekel evidencia uma questão bioética essencial: o que deve prevalecer? A vontade do paciente antes da perda cognitiva ou o estado em que ele se encontra no presente, mesmo que já não sofra?

Médicos holandeses argumentam que precisam estar confortáveis moralmente para realizar a eutanásia. Para eles, a responsabilidade de acabar com a vida de alguém que já não pode confirmar sua vontade é um peso difícil de carregar.

Enquanto isso, pacientes como Mekel vivem o medo constante de “perder a hora” de morrer da maneira que escolheram, tendo que tomar decisões antes do que gostariam.

O caso reforça o debate global sobre eutanásia e autonomia no fim da vida, um tema que continuará a gerar discussões à medida que a população envelhece e mais pessoas enfrentam o desafio da demência.


Fonte: She’s Trying to Stay Ahead of Alzheimer’s, in a Race to the Death / New York Times

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

Deixe um comentário