Em uma manhã comum em uma casa de repouso em Nova York, uma cena perturbadora chamou a atenção de um pesquisador. No horário do almoço, um pequeno grupo de idosos aguardava impacientemente pela abertura das portas do refeitório. Uma mulher, visivelmente cansada e frustrada, pediu a um homem à sua frente que se movesse. Quando ele não respondeu, ela empurrou seu andador contra ele, tentando abrir caminho.
Incidentes como este são mais comuns do que se imagina em instituições de longa permanência. Em Salisbury, Maryland, uma senhora acordou no meio da noite e encontrou outro residente em seu quarto. A filha da mulher, Rebecca Addy-Twaits, suspeitava que sua mãe de 87 anos, que sofria de demência, estivesse alucinando. No entanto, o homem, que morava no mesmo corredor, retornou várias vezes, causando desconforto e insegurança.
Em instituições de cuidados prolongados, não é raro ouvir relatos de residentes gritando, ameaçando, insultando ou invadindo o espaço pessoal de outros. Esses comportamentos podem incluir desde pequenos empurrões até agressões físicas mais graves. Um estudo conduzido por Eilon Caspi, geriatra da Universidade de Connecticut, identificou 105 mortes de residentes em instituições de longa permanência nos últimos 30 anos, resultantes de conflitos entre residentes. No entanto, acredita-se que o número real seja ainda maior, devido à subnotificação desses casos.
Karl Pillemer, geriatra da Universidade Cornell, destacou um paradoxo preocupante: “As instituições que cuidam dos membros mais vulneráveis da nossa sociedade são, paradoxalmente, algumas das mais violentas.” Ele citou um estudo de 2016 que revelou que 20,2% dos residentes em lares de idosos estavam envolvidos em pelo menos um incidente de agressão entre residentes em um único mês.
Em um estudo subsequente publicado em maio, pesquisadores descobriram que, em residências assistidas, cerca de 15% dos residentes estavam envolvidos em incidentes de agressão entre residentes em um mês. A maioria dessas agressões é verbal, incluindo argumentos acalorados, insultos e ameaças. No entanto, uma parcela significativa envolve agressões físicas, como empurrões, socos e agarrões. Em alguns casos, os incidentes são de natureza sexual ou envolvem a invasão de quartos e roubo de pertences.
Os residentes mais propensos a estarem envolvidos em conflitos são geralmente mais jovens e móveis, com algum grau de comprometimento cognitivo. Incidentes são mais comuns em unidades especializadas em demência, onde os residentes, devido à sua condição, podem ter comportamentos desinibidos.
Muitos dos conflitos poderiam ser evitados com avaliações adequadas, monitoramento constante e treinamento apropriado do staff. A falta de pessoal, exacerbada pela pandemia de Covid-19, é um dos principais problemas. Estudos mostram que a agressão entre residentes é mais frequente quando a carga de trabalho dos cuidadores é alta.
Para reduzir os conflitos, algumas medidas podem ser adotadas, como abrir os refeitórios alguns minutos mais cedo para evitar aglomerações, reconfigurar os espaços para facilitar o monitoramento e proporcionar quartos privados para reduzir disputas entre companheiros de quarto. Além disso, programas de treinamento específicos, como o “Melhorando as Relações entre Residentes em Cuidados Prolongados“, desenvolvido pela Universidade Cornell, têm mostrado eficácia em capacitar os funcionários a reconhecer e intervir em situações de agressão.
Lori Smetanka, diretora executiva da National Consumer Voice for Quality Long-Term Care, ressalta a importância de um staff bem treinado e em número suficiente: “Em muitas situações, os incidentes são evitáveis com uma equipe adequadamente treinada e suficiente para monitorar e intervir.”
A violência entre residentes em instituições de longa permanência é um problema sério e frequentemente subestimado. Melhorar o treinamento dos funcionários, aumentar o número de cuidadores e reconfigurar os ambientes dessas instituições são passos fundamentais para garantir a segurança e o bem-estar dos idosos. As mudanças necessárias para mitigar esses conflitos estão ao nosso alcance, e a sua implementação é crucial para a dignidade e a qualidade de vida dos residentes.
Fonte: Personal Conflicts, Even Violence, Are Not Uncommon in Long-Term Care / New York Times
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial