Ética no trânsito: os dilemas dos carros autônomos

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Cláudio Cordovil


Estamos cada vez mais perto de ver carros totalmente autônomos nas ruas. A inteligência artificial (IA) promete revolucionar a forma como dirigimos, e muitos fabricantes garantem que essa mudança vai tornar nossas estradas mais seguras. A ideia é simples: com a IA no comando, erros humanos, como distração, cansaço e até excesso de velocidade, podem ser evitados.

David Margines, da Waymo, empresa da Alphabet especializada em carros autônomos, afirma que a IA pode prevenir acidentes antes mesmo de acontecerem. Parece perfeito, né? Mas não é tão simples.

Expectativas maiores

Melissa Cefkin, antropóloga e professora na Universidade de Santa Clara, acredita que esperamos mais de um carro autônomo do que de um motorista humano. Se uma pessoa comete um erro ao volante, a gente tende a ser mais compreensivo: “Ah, foi só um acidente.” Mas será que seremos tão tolerantes com empresas que vendem carros autônomos? Provavelmente, não.

Por isso, engenheiros e especialistas em ética estão tentando descobrir quais são as melhores regras para guiar esses veículos nas estradas. E são muitas questões a serem discutidas.

Desafios: lidar com pessoas

Para evitar acidentes com pedestres, os carros autônomos usam sensores e câmeras que tentam entender o que está à frente. Mas eles ainda podem confundir pessoas com manequins, robôs de entrega ou até anúncios que mostram rostos humanos.

Outro problema é que, dependendo do treinamento da IA, alguns sistemas podem ter dificuldade para detectar pedestres de pele escura, alerta Peter Singer, especialista em bioética.

Uma possível solução é permitir que os pedestres “falem” com os carros, usando sinais emitidos por seus celulares para avisar sobre sua presença. Mas, e quem não tem celular? Seria justo exigir um celular para garantir a segurança nas ruas?

Animais na estrada

E quando um animal cruza o caminho de um carro autônomo? Veados e alces, por exemplo, são um perigo grande para o motorista, mas o que fazer com animais menores, como gatos ou esquilos? A IA deve considerar suas vidas menos importantes?

Na Waymo, a prioridade é proteger as pessoas. Para os animais menores, a empresa acredita que desviar bruscamente pode ser mais perigoso. Ainda assim, Peter Singer defende que devemos minimizar o sofrimento de todos os seres vivos, humanos ou não. O problema? Uma IA pode acabar valorizando mais a vida de humanos e animais de estimação.

Segurança ou rapidez?

Outro grande dilema: os carros autônomos devem priorizar a segurança ou a eficiência? Ser mais rápido pode ser ótimo para empresas de transporte, mas pode aumentar os riscos. Já focar só em segurança pode causar congestionamentos.

Shai Shalev-Shwartz, da Mobileye, acredita que esse equilíbrio é a chave para resolver a maioria das questões morais envolvendo carros autônomos. Sua empresa criou cinco regras básicas para os veículos: não bater na traseira de outro carro, não ultrapassar de forma perigosa, ceder a passagem, ser cauteloso em áreas de baixa visibilidade e evitar acidentes sempre que possível.

A Mobileye também permite ajustar o estilo de direção. Carros esportivos podem ser programados para serem mais “agressivos”, enquanto minivans podem priorizar a segurança. A Volvo, por outro lado, quer que seus carros autônomos sejam sempre calmos e respeitem os limites de velocidade. Eles acreditam que isso pode ajudar a criar um trânsito mais seguro e menos estressante.

Seguir ou não as leis?

E quanto às leis de trânsito? A Tesla teve que revisar seu sistema de direção autônoma após uma investigação mostrar que seus carros passavam por sinais de “Pare” sem parar completamente.

Deve-se exigir que os carros autônomos sigam as regras à risca? Ou eles podem se comportar como motoristas humanos, que muitas vezes cometem “pequenas” infrações? Shalev-Shwartz acredita que as autoridades precisam decidir se querem que os carros sigam o padrão atual de direção ou se devemos ser mais rígidos com a IA.

Carros em equipe?

Com o avanço da comunicação entre veículos, eles poderão “conversar” entre si e com a infraestrutura ao redor, como semáforos. Mas, e se veículos de diferentes empresas estiverem no mesmo espaço? Será que carros da mesma frota vão se ajudar e deixar os concorrentes para trás?

Shalev-Shwartz acha que todos os carros devem seguir as mesmas regras, independente da empresa. No entanto, sem regulamentação, nada impede que algumas companhias priorizem os próprios veículos, como alerta Sam Abuelsamid, da Guidehouse Insights.

Conclusão

Os carros autônomos vão mudar muito mais do que o jeito que dirigimos. Eles levantam questões éticas complexas, como a segurança de pedestres, a preservação de animais e o cumprimento das leis. Para garantir que as decisões tomadas por essas máquinas sejam as melhores possíveis, é essencial que a sociedade participe desse debate e que regras claras sejam estabelecidas.


Fonte: How Will Self-Driving Cars Learn to Make Life-and-Death Choices?

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

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