A prática de cientistas que experimentam em si mesmos é historicamente controversa, suscitando tanto admiração quanto preocupação ética. Casos como o da virologista Beata Halassy, que tratou seu próprio câncer de mama com viroterapia oncolítica (VTO), trazem à tona questões fundamentais sobre autonomia, riscos e possíveis consequências para terceiros.
Autonomia: o direito de decidir por si mesmo
A autonomia é um princípio central na ética em pesquisa, garantindo que os participantes entendam os riscos e benefícios antes de consentirem. Halassy, com expertise em virologia, tomou uma decisão informada ao testar a VTO em si mesma. Contudo, nem todos os autoexperimentadores possuem o mesmo nível de conhecimento. Isso levanta preocupações sobre a falta de supervisão em experimentos realizados por biohackers ou amadores, que podem subestimar riscos ou ignorar protocolos éticos.
Riscos razoáveis: onde traçar o limite?
Embora o consentimento informado seja essencial, ele não é suficiente para justificar qualquer risco. Especialistas concordam que os riscos devem ser minimizados e proporcionais aos potenciais benefícios. No caso de Halassy, a escolha por um tratamento experimental após passar por cirurgia e quimioterapia sugere uma avaliação ponderada. Mas e quando não há benefício direto para o indivíduo? O debate ético se complica, especialmente em experimentos com um único participante, que têm limitações científicas e podem gerar resultados enganosos.
Impacto sobre outros: consequências além do indivíduo
Apesar do apelo de histórias como a de Barry Marshall, vencedor do Prêmio Nobel por ingerir bactérias para provar sua tese, o impacto negativo de experimentos mal-sucedidos não pode ser ignorado. Há riscos de outros pacientes seguirem exemplos de terapias não testadas ou de publicidade negativa dificultar pesquisas futuras. Além disso, tecnologias como o CRISPR-Cas9, acessíveis a biohackers, podem ser mal utilizadas, ameaçando tanto os indivíduos quanto a aceitação pública de inovações reguladas.
É ético experimentar em si mesmo?
Embora a autoexperimentação possa gerar descobertas valiosas, como no caso de Halassy, ela não ocorre em um vácuo ético. É essencial garantir que tais práticas sejam conduzidas com rigor e transparência, minimizando riscos e impactos negativos. A supervisão ética continua sendo crucial, especialmente à medida que biotecnologias poderosas tornam-se mais acessíveis.
A história nos lembra que o caminho para a ciência é muitas vezes pavimentado por riscos calculados e, ocasionalmente, tragédias evitáveis. A autoexperimentação pode ser uma ferramenta válida, mas exige responsabilidade para não prejudicar tanto o próprio pesquisador quanto a sociedade como um todo. 🧬
Fonte: Is it ever OK for scientists to experiment on themselves? / The Conversation
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial