O artista britânico-ganês Joseph Awuah-Darko, de 28 anos, tornou-se o centro de uma polêmica ética e social ao anunciar publicamente sua decisão de buscar a morte assistida por sofrimento psíquico na Holanda. Diagnosticado com transtorno bipolar resistente ao tratamento, Joseph usou as redes sociais para documentar esse processo — e acabou iniciando um inesperado movimento global de conexão humana: o Last Supper Project.
Do anúncio à reação: um movimento inesperado
Em dezembro de 2024, Joseph publicou um vídeo no Instagram declarando que estava se mudando para a Holanda para solicitar a eutanásia legal. O anúncio, feito com serenidade, causou comoção e gerou uma onda de respostas — desde orações e críticas até mais de 4 mil convites para jantar com estranhos.
A repercussão surpreendente inspirou o Last Supper Project, no qual Joseph compartilha refeições com pessoas ao redor do mundo. Até agora, foram 93 jantares em cidades como Paris, Milão, Bruxelas e Berlim. Cada encontro se transforma em um espaço íntimo de troca sobre saúde mental, sofrimento e dignidade.
Reflexões bioéticas: entre o direito de morrer e a possibilidade de viver
A história de Awuah-Darko reacende um intenso debate bioético: pessoas com sofrimento psíquico devem ter o mesmo direito ao suicídio assistido que pacientes com doenças físicas incuráveis?
Segundo o professor Manuel Trachsel, da Universidade de Basel, a resposta envolve nuances: há risco de “efeito Werther” (contágio suicida), mas também potencial para o “efeito Papageno”, quando histórias públicas promovem esperança e alternativas ao suicídio.
Especialistas como Ken Duckworth (NAMI) e Lars Mehlum (Universidade de Oslo) alertam: o transtorno bipolar envolve fases transitórias de sofrimento e pode ser tratável, ainda que com desafios. Para eles, o discurso sobre autonomia deve ser equilibrado com a compreensão de que a desesperança pode ser um sintoma passageiro, não uma sentença final.
Conexão como antídoto?
Curiosamente, mesmo sem intenção terapêutica, o Last Supper Project atua como forma de cuidado. Duckworth ressalta que vínculos sociais são protetores contra o suicídio, e que iniciativas como essa podem reduzir o isolamento e ampliar a empatia.
Joseph, por sua vez, não se apresenta como mártir nem como símbolo. Ele apenas compartilha sua experiência com honestidade desconcertante: “As pessoas já mudaram de ideia antes. Eu não seria o primeiro na história se mudasse também.”
Uma conversa difícil, mas necessária
Com seu projeto e sua transparência, Awuah-Darko força a sociedade a olhar para um tema tabu: o sofrimento psíquico profundo e as fronteiras da autonomia. Seu relato não oferece respostas fáceis, mas convida a um diálogo maduro sobre saúde mental, dignidade e o papel da coletividade no cuidado de quem sofre.
💬 “Acho que as pessoas deveriam poder falar sobre coisas desconfortáveis sem serem acusadas de romantizá-las“, afirma ele — um lembrete urgente de que o silêncio, às vezes, pode ser mais perigoso que a controvérsia.
Fonte: He’s decided to die. Strangers are sending him prayers — and dinner invitations / USA Today
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Legenda de foto: Joseph Awuah-Darko passando tempo com amigos comendo e bebendo / Arquivo pessoal