Em junho do ano passado, um escândalo abalou a Harvard Medical School quando corpos doados foram roubados e vendidos. No entanto, a prática de roubo de corpos não é novidade na história da medicina. Desde a fundação das primeiras escolas médicas nos EUA, no final dos anos 1700, corpos eram obtidos de forma ilícita para estudos anatômicos, sendo frequentemente tratados com desrespeito.
Michael Sappol, historiador de anatomia, relata em seu livro “A Traffic in Dead Bodies” que existia um mercado negro para a obtenção de corpos. Guardiões de casas de pobres e prisões eram pagos para fornecer cadáveres às escolas de medicina. A dissecação era um estigma, associada aos corpos dos pobres e marginalizados.
A historiadora Daina Ramey Berry encontrou evidências perturbadoras nos arquivos de várias escolas médicas. Corpos de escravizados eram comprados e vendidos, prática que Berry denomina “comércio doméstico de cadáveres”. Em uma carta de 1845, um médico de Harvard foi questionado sobre o custo de um cadáver negro, revelando o racismo enraizado na medicina da época.
Berry descobriu que escolas de medicina de Texas a Maine obtinham corpos de escravizados e outros marginalizados para dissecação. Alguns professores viam essas práticas como justificadas devido à desumanização racializada. O famoso caso de William Burke e William Hare, na Escócia do século XIX, destaca os extremos da pilhagem de corpos para a medicina.
Os escândalos levaram à criação de leis para regular a obtenção de corpos, focando principalmente em pessoas não reclamadas após a morte. No entanto, a discriminação persistiu, especialmente durante e após a escravidão. O Uniform Anatomical Gift Act de 1968 legalizou a doação voluntária de corpos nos EUA, mas a maioria dos doadores ainda é branca.
Nas últimas décadas, houve uma mudança na forma como os corpos doadores são tratados nas escolas de medicina. Tom Champney, professor na Universidade de Miami, testemunhou essa evolução desde os anos 1980. As escolas agora realizam cerimônias memoriais e tratam os corpos com mais respeito, considerando-os “mentores silenciosos”.
A história das doações de corpos na medicina é marcada por racismo e práticas antiéticas, mas a mudança nas atitudes ao longo do tempo indica um progresso em direção ao respeito e ética. A doação voluntária de corpos é essencial para o avanço da medicina, e a valorização desses doadores é crucial para honrar sua contribuição.
Fonte: The dark history of medical education / WBUR
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
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