Racismo: Realidade em Pleno Século 21

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Virginia Ferreira

Não é frequente, mas tenho a sensação de que a humanidade alcançou uma tecnologia de ponta e em termos de humanidade faz um percurso inversamente proporcional. Como uma espécie de montanha russa que sobe para descer ou como as fases da lua, que quando chega a fase cheia logo em seguida começa a minguante. Será que o embalo da descida da “humanidade” é o impulso para o avanço tecnológico?

Ao percorremos a história da humanidade, constataremos que o racismo sempre esteve presente nas sociedades humanas, sempre. Seja de forma clara seja de forma subliminar, não importa. A humanidade, de acordo com Foucault (1993), sempre criou mecanismos de exclusão. Na Grécia antiga, por exemplo, do século 8 ao 5 a.C. a Ágora Grega era constituída de um espaço comum da polis, na qual cidadãos do sexo masculino, de pais gregos, livres e detentores de terras e escravos, participavam de debates e discussões sobre as decisões políticas. Discussões e debates estes que são considerados a origem do Estado Democrático, o berço da democracia.

Mas, que democracia era essa que excluía das discussões e dos debates as mulheres, os negros, os pobres e crianças? Estes eram proibidos de participar. É importante evidenciar que o texto é sobre o racismo, que pode ser entendido como uma forma de preconceito e discriminação baseada na raça. No século 19, compreendia-se que a cor da pele e a origem geográfica de indivíduos promoviam uma diferenciação de raças.

Entretanto, desde séculos a.C. até os dias de hoje, século 21, não só o racismo persiste, faz parte dos cenários existenciais, mas também a discriminação de gênero e classe social como na Grécia Antiga. Se houve alguma modificação, foi apenas uma atualização das formas de preconceito e de externalizá-las. Se formos chamar ao texto o processo de escravização, ele estava embasado em uma ideologia de hierarquia das raças, tal qual o holocausto comandado por Hitler na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

A tal da supremacia da raça ariana. A AMIA – Associação Mutual Israelita Argentina que é o Centro da Comunidade Judaica em Buenos Aires que tem a missão de promover o bem-estar e o crescimento do espírito judaico na Argentina, foi alvo de um ataque terrorista brutal em 18 de julho de 1994. Completará esse ano 26 anos e permanece impune. Matou 85 pessoas e feriu centenas. Foi o atentado mais mortal da Argentina, que possui a maior comunidade judaica da América Latina, e a sexta do mundo à exceção de Israel.

Nos EUA não é raro, negros serem mortos por policiais, como foi o caso de George Floyd, em 2 de junho deste ano ou o caso de Ahmaud Abert, um jovem de 25 anos que foi morto por um ex-policial enquanto se exercitava na rua, em 08 de maio também deste ano; como acontece aqui no Brasil diariamente, na África, enfim, talvez nos quatro cantos do mundo, em graus diferentes, de forma diferente, mas nos quatro cantos. E a violência contra a mulher, e o feminicídio, e a violência contra a periferia dentre tantas outras formas de violência, violência esta que é um ataque contra a humanidade.

Por que será que conquistamos uma tecnologia de ponta, a cura para inúmeros males que acometem as sociedades – como as doenças, soluções para diversos problemas – como a educação virtual na época da pandemia de COVID-19, mas fracassamos em nos sentir e agir como humanos independentemente da cor de pele, raça, gênero, crença religiosa, partido político, time de futebol, classe social, enfim, apesar das diferenças, somos todos humanos.

Será que como dissemos anteriormente, chegamos ao máximo do que temos a capacidade de alcançar como evolução em termos de humanidade e estamos fazendo um caminho de retorno, ou será que em termos de evolução humana pouco saímos do lugar e achamos que fomos longe pela evolução tecnológica e científica que alcançamos?

A tecnologia e a ciência são produtos dos feitos humanos, mas não nos tornam nem mais nem menos humanos. O caminho é o sentimento de pertencimento a raça humana, implicando em compaixão, solidariedade e respeito. Isso sim é o necessário e talvez até suficiente.

No Discurso Final de “O Grande Ditador” de Charles Chaplin, produzido em 1940 e pesquisado pelo prof. J.Pietro B. Nardella Dellova, Coordenador dos Cursos de Direito FAJ e POLICAMP.

“[…] Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. […] Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. […] Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. […] Não sois máquina! Homens é que sois! […] Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!”.

Em pleno século 21, precisamos lutar contra o racismo, o preconceito e a discriminação que nada mais são do que conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia de vidas _ um domínio da suposta raça superior sobre as demais, incluindo gênero, classe social e outras formas.

Finalizando, em pleno século 21, temos que lutar contra aquilo que é natural mas que foi destruído pela cultura: a igualdade entre todas as vidas.

Aposto na bioética como uma disciplina que restituirá ao homem o respeito pela sua própria vida e por todas as vidas.


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