A epidemia do sobrediagnóstico e seus impactos na saúde mental

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Cláudio Cordovil

A neurologista Suzanne O’Sullivan levanta uma preocupação crescente na medicina moderna: o excesso de diagnósticos sem tratamentos eficazes pode estar prejudicando mais do que ajudando os pacientes. Em seu novo livro, The Age of Diagnosis, ela apresenta dados alarmantes sobre essa tendência.

Entre 1998 e 2018, os diagnósticos de autismo aumentaram 787% no Reino Unido, enquanto a doença de Lyme tem uma taxa de sobrediagnóstico estimada em 85%, incluindo em locais onde a infecção sequer pode ser contraída. Além disso, há pouca evidência de que os programas de rastreamento de câncer realmente reduzam a mortalidade da doença.

O efeito nocebo e o excesso de rótulos médicos

O’Sullivan explica que os médicos estão cada vez mais nomeando sintomas sem uma análise aprofundada das causas. Isso leva os pacientes a se preocuparem excessivamente com suas condições, agravando seus sintomas — um fenômeno conhecido como efeito nocebo.

Ela cita o caso de uma jovem de 24 anos que chegou ao seu consultório com crises epilépticas e 10 outros diagnósticos diferentes. Muitos desses diagnósticos não têm tratamento eficaz, criando um ciclo de preocupação e piora dos sintomas.

A linha tênue entre saúde e doença

A explosão nos diagnósticos de autismo e TDAH nos últimos anos, segundo O’Sullivan, pode ser resultado de uma tentativa de corrigir falhas do passado, quando muitas pessoas não recebiam o diagnóstico necessário. No entanto, ela argumenta que agora o excesso de diagnósticos não está trazendo melhorias na qualidade de vida.

“Se o diagnóstico fosse realmente eficaz, deveríamos ver uma população mais feliz, mas, em vez disso, estamos vendo um aumento dos problemas de saúde mental”, alerta a neurologista.

O desafio é encontrar um equilíbrio: para casos mais graves, o diagnóstico pode ser essencial, mas nos casos mais leves, há riscos de estigmatização e impactos na autoimagem das crianças e adolescentes.

O problema do excesso de exames médicos

Outro ponto preocupante é o sobrerrastreamento, especialmente no caso do câncer. O’Sullivan aponta que, ao aumentar a sensibilidade dos exames, mais casos são detectados, mas muitos desses tumores nunca causariam danos à saúde do paciente.

Um exemplo citado no livro é um estudo que analisou exames de rastreamento para câncer de mama:

  • Para cada 2 mil mulheres examinadas, apenas 1 vida é salva.
  • Em contrapartida, entre 10 e 20 mulheres recebem tratamentos desnecessários, com efeitos colaterais potencialmente graves.

O’Sullivan sugere que, antes de fazer um exame preventivo, as pessoas devem entender os riscos do sobrediagnóstico e considerar opções como a vigilância ativa. Em alguns tipos de câncer, como o de próstata, essa abordagem já é utilizada, evitando tratamentos agressivos desnecessários.

Além disso, ela propõe mudar a nomenclatura de certas condições encontradas nos exames. A simples palavra “câncer” gera pânico, levando muitos pacientes a buscar tratamentos imediatos, mesmo quando a melhor opção seria apenas monitorar a situação.

Reflexão sobre o impacto dos diagnósticos

A visão da neurologista convida a uma reflexão: será que estamos confundindo mais diagnósticos com mais saúde? O risco do sobrediagnóstico é que, ao rotular sintomas e pequenas variações biológicas como doenças, criamos uma população ansiosa, medicalizada e, muitas vezes, sem um real benefício clínico.

O desafio para o futuro da medicina será encontrar um equilíbrio entre detectar doenças reais e evitar o excesso de diagnósticos que podem trazer mais malefícios do que benefícios. 🚑


Fonte: An Overdiagnosis Epidemic Is Harming Patients’ Mental Health / Wired

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

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