A pressa pela morte assistida ignora os cuidados paliativos

Foto do autor
Cláudio Cordovil

O debate sobre a morte assistida no Reino Unido está ganhando força com o projeto de lei de Kim Leadbeater, mas críticos apontam que a discussão avança sem considerar devidamente as falhas no acesso aos cuidados paliativos.

O papel essencial dos cuidados paliativos

Um exemplo citado no artigo do The Times ilustra bem essa questão: um homem com câncer de próstata avançado chega ao hospital dizendo que deseja morrer. No entanto, após receber cuidados paliativos básicos e apoio emocional, sua perspectiva muda e ele retorna para casa sem mais expressar esse desejo. Esse caso reforça um argumento central da oposição ao projeto de lei: muitas vezes, o pedido para morrer pode ser um reflexo da falta de suporte adequado, e não um desejo genuíno e irreversível.

Embora alguns médicos não sejam totalmente contrários à morte assistida em casos extremos, há preocupação com a precariedade dos cuidados paliativos no país. Atualmente, 40% dos hospitais do Reino Unido não oferecem atendimento paliativo presencial nos fins de semana, o que pode deixar pacientes em sofrimento sem assistência adequada. Além disso, apenas um terço das regiões conta com uma linha telefônica de suporte 24 horas, recomendada desde 2011.

O peso das desigualdades sociais

Outro ponto levantado no artigo é que a escolha pela morte assistida pode ser influenciada por fatores externos, como pobreza e abandono. Cerca de 100 mil pessoas no Reino Unido morrem anualmente sem acesso a cuidados adequados. Muitos pacientes terminais acabam em instituições porque o suporte domiciliar é insuficiente — e quando permanecem em casa, podem enfrentar situações degradantes, como a falta de higiene básica.

A desigualdade também se reflete no acesso a hospitais e casas de repouso, já que muitas dessas instituições dependem de doações privadas, tornando os cuidados de qualidade mais acessíveis a quem vive em regiões ricas.

Além disso, a pressão para escolher a morte pode vir de diversas formas. O foco muitas vezes está no temor de que idosos possam ser influenciados por familiares interessados em heranças. No entanto, há também a chamada “coerção social”, em que uma vida marcada por dor, isolamento e insegurança financeira pode levar alguém a concluir que não vale mais a pena continuar vivendo.

A pressa política e as falhas do projeto

Os defensores da proposta de Leadbeater parecem determinados a aprová-la rapidamente, evitando discussões aprofundadas sobre os riscos e complexidades do tema. Há uma impaciência visível com especialistas que apontam falhas na legislação e possíveis impactos negativos, como o risco de que pacientes vulneráveis escolham a morte por falta de apoio.

Ao mesmo tempo, o governo já criou uma comissão para revisar e melhorar os cuidados paliativos no país, o que torna ainda mais controversa a pressa em aprovar a morte assistida antes que essa revisão seja concluída.

O direito de morrer… ou a falta do direito de viver?

A defesa do direito à morte muitas vezes se apoia na ideia de um paciente forte, consciente e independente, que tomou uma decisão bem-informada após esgotar todas as possibilidades médicas. No entanto, essa não é a realidade da maioria dos doentes terminais. Sem acesso garantido a um atendimento digno, muitos podem acabar optando pela morte não porque desejam, mas porque sentem que não têm outra opção.

A morte assistida pode ser vista como um avanço, mas ignorar as falhas nos cuidados paliativos pode transformar essa “escolha” em uma necessidade imposta pela negligência social. Antes de oferecer a opção de morrer, talvez fosse mais urgente garantir que todos tenham a chance de viver com dignidade até o fim.


Fonte: Dash for assisted dying ignores palliative care / Times

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

Deixe um comentário