Recentemente, Cara Hunt, Ayden Eilmus e Basel Tarab (ver link ao final da matéria), destacados bioeticistas, convocaram a comunidade da bioética a reivindicar um cessar-fogo permanente e a proteção das instalações médicas e do pessoal em Gaza. No cerne desta demanda está o entendimento de que a bioética deve evoluir e expandir seu escopo além das abordagens individualistas e centradas no cuidado à saúde, como enfatizado pela Dra. Vardit Ravitsky, presidente e CEO do Centro Hastings de Pesquisa em Bioética.
Os líderes de saúde que inicialmente se manifestaram contra as ações de 7 de outubro de Hamas, hoje silenciam diante das continuadas violações dos direitos humanos em Gaza. Estas incluem o bombardeio de hospitais palestinos, o bloqueio à ajuda humanitária e os ataques contra trabalhadores organizações humanitárias.
Os autores do texto (ver link ao final da matéria) argumentam que o silêncio dos bioeticistas frente aos crimes de guerra médicos permite a disseminação de desinformação e diminui o potencial da disciplina para construir pontes além de suas fronteiras tradicionais.
A partir da perspectiva de Matt Wynia, a história do envolvimento médico no Holocausto serve como um poderoso lembrete das consequências de quando os profissionais de saúde adotam e reforçam sentimentos predominantes, falhando em falar verdades incômodas diante do racismo, da desumanização e dos crimes de guerra médicos. O artigo destaca a necessidade de uma resposta coerente e imparcial aos conflitos geopolíticos, propondo que os bioeticistas tomem uma posição ativa ou se abstenham completamente de comentar sobre tais conflitos.
Contrastando com a resposta à guerra na Ucrânia, onde líderes médicos e bioeticistas se posicionaram firmemente, a falta de ação em relação ao conflito Israel/Palestina revela inconsistências na pedagogia da bioética. A Associação Americana de Saúde Pública é a única grande organização profissional dos Estados Unidos a ter convocado um cessar-fogo humanitário em Gaza, enquanto a Associação Médica Americana rejeitou uma resolução semelhante.
À medida que o número de vidas civis perdidas aumenta a cada dia, os líderes em bioética são chamados a agir com coragem moral para nomear esses horrores e identificar os sistemas que os facilitam, de todos os lados do conflito. A neutralidade médica, segundo a Dra. Ravitsky, é apenas o ponto de partida para um diálogo bioético aberto e público sobre o conflito Israel/Palestina, visando a preservação das vidas civis através de um cessar-fogo imediato e permanente.
Nota: As visões apresentadas são perspectivas pessoais dos autores e não refletem as posições de quaisquer instituições afiliadas.
Fonte: Bioethics leaders should demand a permanent ceasefire in Gaza