Em 2022, pesquisadores na China alcançaram um marco na ciência da clonagem ao clonar com sucesso um macaco rhesus, conforme descrito em um estudo publicado mês passado na revista Nature Communications.
Este feito, usando uma técnica ligeiramente diferente daquela empregada na clonagem de Dolly, a ovelha, e outros mamíferos, marca um avanço significativo na clonagem de primatas, especialmente por se tratar de uma espécie geneticamente próxima aos humanos.
A técnica utilizada, conhecida como transferência nuclear de células somáticas (SCNT), permite a criação de indivíduos geneticamente idênticos a partir de uma célula adulta, que é injetada em um óvulo previamente enucleado. Essa abordagem já foi aplicada em diversas espécies, mas a clonagem de primatas representa um desafio especial devido à sua complexidade genética e proximidade com os humanos.
O estudo atual destaca diferenças importantes entre os embriões clonados e aqueles obtidos por fertilização in vitro, especialmente no que diz respeito à epigenética. Uma das inovações foi a substituição do tecido placentário de embriões clonados por tecidos de embriões não clonados, uma técnica denominada “substituição de trofoblasto” (TR). Isso resultou no nascimento saudável de um macaco rhesus macho, que sobreviveu por mais de dois anos.
Implicações e Considerações Éticas
Este avanço científico abre caminho para a expansão da clonagem de primatas e levanta a possibilidade preocupante da clonagem reprodutiva humana. A capacidade de produzir um grande número de macacos geneticamente uniformes para testes de eficácia de medicamentos, conforme destacado por Mu-ming Poo, diretor do Instituto de Neurociências da Academia Chinesa de Ciências, pode revolucionar os estudos em biomedicina, eliminando variabilidades genéticas que afetam os resultados dos testes.
No entanto, a obtenção de indivíduos clonados por meio da SCNT levanta questões éticas profundas. A clonagem reprodutiva viola o processo natural de reprodução sexual, que garante a variabilidade genética essencial para a evolução das espécies. Além disso, as técnicas de clonagem reprodutiva têm baixas taxas de sucesso e requerem a criação de numerosos embriões e o uso de muitas fêmeas gestantes, muitas vezes resultando em falhas devido a anomalias genéticas.
A proximidade genética dos macacos rhesus com os humanos aumenta os temores de que a clonagem reprodutiva possa ser realizada em humanos em um futuro não muito distante. Essa possibilidade apresenta dificuldades éticas relacionadas ao pré-design genético do indivíduo e à instrumentalização potencial, o que violaria a dignidade única e inimitável do ser humano.
Regulamentação e Futuro da Clonagem
Diferentemente da China, experimentos de clonagem reprodutiva com primatas não são permitidos na União Europeia devido à sua proximidade genética com os humanos. Apesar disso, a clonagem humana para fins de pesquisa já é uma realidade, com a criação de embriões humanos clonados para uso em pesquisas, embora com limitações estritas e a condição de que sejam destruídos precocemente.
A aplicação clínica de terapias regenerativas baseadas em células-tronco obtidas de embriões clonados ainda está distante de se tornar uma realidade na medicina. O progresso da pesquisa em células iPS (células pluripotentes induzidas) torna desnecessário o processo custoso e ineficiente da clonagem, além de evitar a criação e destruição inaceitáveis de embriões humanos.
O avanço rápido das técnicas de edição genética e o aprofundamento do conhecimento sobre o genoma e os mecanismos epigenéticos podem acelerar a possibilidade da clonagem reprodutiva em humanos. Contudo, é fundamental que uma análise minuciosa das consequências desses experimentos, sua utilidade e riscos, informe a necessária regulamentação dessas práticas de pesquisa, em defesa da nossa espécie, nosso ecossistema e nossa dignidade.
Foto de Andre Mouton na Unsplash
Fonte: Primate cloning: A step forwards or backwards?
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4