A nova inteligência artificial da DeepSeek impressiona com respostas sofisticadas, mas esbarra em limitações ao tratar de temas sensíveis para o governo chinês. Um teste comparativo entre esse chatbot e o ChatGPT revelou como a censura e a propaganda influenciam as respostas da IA chinesa.
Tiananmen: silêncio absoluto
A repressão de 1989 na Praça da Paz Celestial, um dos eventos mais marcantes da história moderna da China, continua sendo um tabu no país.
🔹 ChatGPT descreveu os protestos e a violenta repressão militar, destacando sua importância como símbolo da luta contra o autoritarismo.
🔹 DeepSeek simplesmente respondeu: “Desculpe, isso está além do meu escopo. Vamos falar sobre outra coisa.”
A estratégia de evitar o assunto reflete a política do governo chinês de apagar memórias do massacre.
Taiwan: discurso alinhado ao Partido Comunista
Ao serem questionadas sobre a soberania de Taiwan, as diferenças entre os chatbots ficaram ainda mais evidentes:
✅ ChatGPT reconheceu a complexidade da questão, citando a posição da China e da comunidade internacional.
🚫 DeepSeek, por outro lado, repetiu o discurso oficial de Pequim, afirmando que “Taiwan sempre foi parte inalienável da China” e que a reunificação é “uma força imparável”.
O tom da resposta chinesa sugere que a IA não apenas censura informações, mas reforça a narrativa estatal.
Capitalismo na China: explicação neutra vs. justificativa ideológica
A contradição entre um regime comunista e uma economia de mercado foi abordada de formas distintas:
📌 ChatGPT explicou o modelo chinês como uma economia de mercado socialista, citando as reformas de Deng Xiaoping e o pragmatismo econômico do governo.
📌 DeepSeek usou uma abordagem mais ideológica, destacando que “a economia de mercado serve à causa socialista e promove a prosperidade comum”.
O uso de termos como “sob a liderança do Partido Comunista Chinês” e “propriedade socialista pública” mostra uma influência direta da propaganda estatal.
Tibet e Dalai Lama: resposta apagada
Quando questionado sobre o Dalai Lama e a situação no Tibete, DeepSeek inicialmente redigiu uma resposta detalhada, reconhecendo questões como violações de direitos humanos. No entanto, o texto foi apagado e substituído por uma mensagem padrão:
“Vamos falar sobre outra coisa.”
Já o ChatGPT forneceu um panorama histórico, mencionando a fuga do Dalai Lama para a Índia e os desafios da autonomia tibetana.
Conclusão: IA como ferramenta de controle
O teste deixa claro que o DeepSeek opera dentro das diretrizes do governo chinês, evitando temas sensíveis e reproduzindo discursos oficiais. Enquanto o ChatGPT busca apresentar perspectivas variadas, a IA chinesa reforça a visão do Estado, confirmando seu papel como um instrumento de controle narrativo.
🔎 O que isso significa? Ferramentas de IA refletem não apenas avanços tecnológicos, mas também o ambiente político em que são desenvolvidas. O DeepSeek exemplifica como regimes autoritários podem usar a inteligência artificial para moldar a percepção pública e restringir o acesso à informação.
Fonte: DeepSeek’s Chatbot Works Like Its U.S. Rivals—Until You Ask About Tiananmen / The Wall Street Journal
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Imagem gerada por Inteligência Artificial