O Futuro da Reprodução Assistida: Um Caminho Incerto

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Cláudio Cordovil

A reprodução assistida, especialmente a fertilização in vitro (FIV), é uma realidade amplamente aceita. Com 82% dos americanos apoiando a moralidade da FIV, segundo pesquisa da Gallup, o debate em torno desse método parece estar resolvido. No entanto, essa calmaria pode ser temporária, principalmente com o desenvolvimento de novas tecnologias como a gametogênese in vitro (GIV), que promete redefinir o modo como concebemos e compreendemos a criação de vida.

A GIV é uma tecnologia que permite a criação de espermatozoides e óvulos a partir de células comuns, como as da pele. Em termos práticos, isso significa que homens poderiam gerar óvulos e mulheres poderiam gerar espermatozoides, permitindo que casais do mesmo sexo tenham filhos geneticamente ligados a ambos os pais. Além disso, a GIV permitiria que uma criança tivesse material genético de mais de dois pais biológicos.

Se por um lado essa inovação oferece novas possibilidades para famílias, por outro, ela também levanta questões éticas e culturais profundas. Em um artigo de 2020, Debora L. Spar reflete que, com o tempo, o uso de tecnologias como a GIV pode se tornar tão rotineiro que os medos de “bebês projetados” podem dar lugar a uma aceitação generalizada. Mas essa visão otimista pode ser prematura. A sociedade já manifestou reações contrárias a tecnologias consideradas inovadoras, como a clonagem humana, rejeitada por questões éticas. Será que o mesmo acontecerá com a GIV?

Um dos argumentos éticos clássicos contra as tecnologias reprodutivas é a ideia de que a chegada de uma criança deve ser vista como um presente, e não como um projeto. Tecnologias como o diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), usado em embriões criados por FIV para descartar aqueles com características indesejadas, como anomalias genéticas ou mesmo para selecionar o sexo, já causam debates intensos. Há um risco de que a engenharia genética e o controle sobre as características dos filhos transformem a reprodução em um processo de “criação personalizada”, o que pode desumanizar a experiência.

Essa crítica pode se intensificar à medida que o público associe essas tecnologias a figuras controversas do Vale do Silício. Elon Musk, conhecido por seu apoio à natalidade e seu uso de FIV e barriga de aluguel, ilustra bem essa questão. A recente revelação de que bilionários como Sam Altman e Peter Thiel estão financiando start-ups de tecnologia de fertilidade, incluindo testes embrionários sofisticados e até úteros artificiais, levanta uma pergunta inquietante: o que acontece quando essas tecnologias deixam de ser associadas ao “casal simpático ao lado” e passam a ser vistas como ferramentas nas mãos de uma elite tecnocrática?

O envolvimento crescente de gigantes da tecnologia no campo da reprodução assistida adiciona uma camada extra de complexidade ao debate. Em um contexto de crescente desconfiança em relação às grandes empresas de tecnologia, como demonstrado pelas preocupações com as redes sociais e a privacidade de dados, é possível que o público desenvolva uma aversão semelhante em relação às tecnologias reprodutivas. Afinal, a ideia de um bebê nascido de um útero artificial ou gerado a partir de um número indefinido de pais pode parecer distópica para muitos.

A GIV pode transformar a reprodução, mas também pode alienar parte da sociedade, que já se sente desconfortável com o avanço descontrolado da tecnologia. Assim como o público rejeitou a clonagem humana, pode-se imaginar uma reação semelhante contra a manipulação genética avançada de embriões.

O futuro da reprodução assistida e da GIV levanta questões éticas, culturais e tecnológicas de proporções imensas. Embora o progresso científico ofereça possibilidades fascinantes, ele também nos obriga a refletir profundamente sobre os limites da intervenção humana na criação da vida.

O debate sobre o que constitui um avanço positivo e o que representa um “projeto humano” excessivo ainda está longe de ser resolvido. O futuro da reprodução pode estar cheio de inovações, mas também de dilemas morais que exigirão uma abordagem cautelosa e reflexiva.

Antes que essas novas tecnologias se tornem parte do cotidiano, é essencial estabelecer limites e diretrizes que garantam que a busca por avanços não ultrapasse os valores fundamentais da sociedade. Afinal, como o exemplo da clonagem mostra, nem toda inovação é inevitável, e o público tem um papel vital em determinar os limites do aceitável.

Essas reflexões mostram que o caminho da reprodução assistida não será tranquilo. Novas tecnologias como a GIV podem trazer benefícios, mas também profundas divisões culturais e éticas. A sociedade precisa estar preparada para enfrentar esses desafios com responsabilidade e clareza.


Fonte: The World Isn’t Ready for What Comes After I.V.F. / The New York Times

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

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