O Significado da Atividade Cerebral Durante a Morte: Implicações Éticas e Médicas

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Cláudio Cordovil

Uma Análise da Atividade Cerebral no Processo de Morte

Um estudo recente, publicado na revista “Philosophy, Ethics, and Humanities in Medicine”, explorou um fenômeno intrigante ocorrido em pacientes em processo de morte, após a retirada do suporte ventilatório. Este estudo demonstrou um aumento significativo da atividade cerebral, especificamente a atividade gama, registrada por eletroencefalograma em alguns indivíduos. Essa descoberta sugere que o cérebro pode permanecer altamente ativo durante o processo de morrer.

Atividade Gama: Mais do que Resíduo Cerebral

Contrariamente à crença de que a atividade cerebral diminui à medida que a morte se aproxima, a atividade gama (ondas cerebrais de alta frequência entre 30 a 100 hertz) está associada a processos cognitivos superiores, como percepção sensorial, memória e processamento de informações. Em indivíduos saudáveis, essa atividade é particularmente notável em situações que exigem aumento da atividade mental, como aprendizagem e resolução de problemas. Estudos em animais e observações em eventos de asfixia e hipercapnia também revelaram aumentos semelhantes na atividade cerebral.

Reavaliação do Diagnóstico de Morte

Estas descobertas nos levam a questionar como interpretamos o aumento da atividade cerebral durante o processo de morrer e como isso afeta o diagnóstico de morte após uma parada cardíaca. Tradicionalmente, a morte humana é definida pela cessação completa e irreversível das funções cerebrais. Contudo, a parada cardíaca não implica imediatamente em cessação da atividade cerebral, e a ressuscitação cardiopulmonar pode, em muitos casos, reverter a parada cardíaca e restaurar as funções cerebrais.

Tempo de Espera Após a Parada Cardíaca

As discrepâncias entre diferentes autores sobre quanto tempo após a cessação da atividade cardíaca é necessário para determinar a irreversibilidade da cessação da atividade cerebral levantam questões significativas. Os tempos estabelecidos por alguns quadros legais para declarar a morte podem ser considerados curtos demais, especialmente diante da possibilidade de recuperação da atividade cerebral.

Doação de Órgãos e Critérios de Morte

A variabilidade nos critérios temporais para a doação de órgãos em doadores com parada cardíaca também é um ponto de debate ético e médico. Enquanto alguns países exigem apenas dois minutos de assistolia para declarar a morte, outros, como a Itália, exigem 20 minutos.

Morte: Um Conceito Ontológico e Fisiológico

Filosoficamente, a morte é definida como o estado irreversível onde a unidade integrativa do corpo como um todo se perde. Segundo J.L. Bernat, a morte é o evento que separa o processo de morrer da desintegração corporal. É crucial distinguir entre a permanência e a irreversibilidade de uma condição. Irreversibilidade significa que não há possibilidade de reversão, enquanto permanência não implica necessariamente em irreversibilidade.

Conclusão

O reconhecimento da atividade cerebral nos estágios iniciais após a parada cardíaca não deve apenas nos levar a repensar a definição e o diagnóstico de morte, mas também a considerar este estágio do processo de morrer como um período importante da vida, que deve ser acompanhado tanto do ponto de vista médico quanto espiritual.


Fonte: Persistence of brain activity during the dying process

Imagem gerada por Inteligência Artificial

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

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