Duas mortes por sarampo neste inverno marcaram o retorno de uma doença que muitos consideravam erradicada nos Estados Unidos. Mas o maior perigo não está na letalidade direta, e sim em um efeito pouco conhecido: a amnésia imunológica, que compromete a memória do sistema imune e abre caminho para outras infecções sérias.
Antes da vacina: um cenário devastador
Nos tempos de nossos avós, 90% das crianças americanas contraíam sarampo. Apesar dos avanços com antibióticos e alimentação, cerca de 500 pessoas morriam por ano na metade do século XX — número que já foi de 6 mil no início dos anos 1900.
A vacinação em massa mudou o curso da história: segundo a Lancet, 100 milhões de vidas foram salvas nos últimos 50 anos. Em países com populações subnutridas e sem imunidade prévia, o vírus ainda é mortal.
Negacionismo em cargos de liderança
Robert F. Kennedy Jr., atual secretário de Saúde dos EUA, minimiza os benefícios das vacinas. Em vez de recomendar a imunização diante de surtos, sugere vitamina A, óleo de fígado de bacalhau e esteroides, sem respaldo científico sólido. A retórica de que “todos pegavam sarampo na infância” tem sido usada para justificar a preferência pela chamada imunidade natural.
Liberdade individual vs. saúde coletiva
Essa visão alimenta um movimento crescente de libertarianismo em saúde pública, que rejeita recomendações oficiais e trata a saúde como um bem puramente individual — algo que se conquista na academia ou no corredor de suplementos do supermercado.
Entre os efeitos colaterais dessa ideologia:
- Desconfiança generalizada na ciência;
- Popularidade de figuras públicas com histórico antivacina;
- Ênfase em tratamentos e soluções “alternativas”.
Retrocessos na estrutura de saúde
Em meio ao surto de sarampo, cortes no financiamento do NIH e a suspensão de pesquisas sobre hesitação vacinal sugerem um desmonte da infraestrutura científica. Até a reunião do comitê da vacina da gripe foi cancelada durante a pior temporada de influenza em mais de uma década.
O futuro da pesquisa ameaçado
Pesquisadores relatam a necessidade de evitar até o termo “RNAm” em propostas de financiamento, com medo de represálias ideológicas. Isso ocorre mesmo com resultados promissores em testes de vacinas RNAm contra cânceres como o de pâncreas e glioblastoma, onde os primeiros estudos mostram taxas de resposta animadoras.
📌 Reflexão final: Em tempos de desinformação e polarização, defender a saúde pública exige lembrar que ciência não é ideologia — é a base que nos permitiu chegar até aqui.
Fonte: The Entire Future of American Public Health Is at Risk / New York Times
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Foto de Peter Schulz na Unsplash