A recente cobertura da morte do ator Gene Hackman e de sua esposa, Betsy Arakawa, trouxe à tona uma discussão bioética delicada: até onde deve ir a transparência sobre dados médicos de pessoas falecidas?
Apesar de o casal ter vivido de forma bastante reservada, detalhes íntimos sobre sua saúde vieram a público após suas mortes — incluindo informações sobre medicações e cirurgias. Isso levanta um dilema: o que exatamente deve ser divulgado em relatórios de autópsia?
🧬 O que uma autópsia pode revelar?
Nos EUA, onde o caso ocorreu, autópsias podem ser clínicas (solicitadas por familiares) ou médico-legais (por ordem judicial). Ambas podem revelar mais do que apenas a causa da morte — incluindo doenças não diagnosticadas, fatores genéticos e informações sensíveis que não constam no atestado de óbito, mas que podem ter implicações para familiares vivos.
“Minha informação de saúde é minha… até que se torne minha informação genética”, diz a bioeticista Lauren Solberg.
⚖️ Privacidade vs. Interesse público
A legislação americana, como o HIPAA, protege dados de saúde por até 50 anos após a morte. No entanto, a causa da morte é considerada informação pública — principalmente por seu valor estatístico em saúde pública.
O problema está nos “achados incidentais” e testes genéticos, que podem revelar riscos hereditários para familiares. Divulgar ou não essas informações envolve uma série de questões éticas, principalmente se o falecido não deixou instruções claras.
📄 Diretivas antecipadas e o silêncio sobre o pós-morte
Poucas pessoas especificam o que desejam que aconteça com seus dados médicos após a morte. As diretivas antecipadas de vontade geralmente focam em cuidados antes da morte — e não no que acontece depois.
A sugestão das pesquisadoras Lauren Solberg e Brooke Ortiz é expandir esse documento para incluir preferências sobre privacidade post mortem, inclusive sobre a realização de autópsias e compartilhamento de informações genéticas com familiares.
🧠 O peso do saber
Casos como o de uma jovem que descobriu, via teste genético, um alto risco de Alzheimer mostram o impacto emocional dessas revelações. Saber de um risco sem cura ou tratamento pode gerar mais angústia do que benefício.
⚖️ Decisão judicial preserva intimidade
Em meio à repercussão do caso Hackman, uma decisão judicial no Novo México restringiu temporariamente o acesso público aos relatórios de autópsia e materiais relacionados, respeitando a privacidade solicitada pelos representantes do espólio.
🔍 A discussão sobre o acesso a dados médicos após a morte ainda é incipiente, mas casos como esse mostram a urgência de se criar protocolos mais claros e éticos sobre o destino dessas informações. Falar sobre a morte continua sendo um tabu — mas talvez seja hora de incluir esse tema em nossas conversas sobre autonomia e dignidade.
Fonte: Autopsies can reveal intimate health details. Should they be kept private?/ MIT Technology Review
Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4
Legenda da foto: O ator Gene Hackman em cena de ‘Os imperdoáveis’ (1992) — Foto: Divulgação