Aborto como Questão de Saúde e Justiça Familiar

Foto do autor
Cláudio Cordovil

A decisão da Suprema Corte no caso Dobbs representou uma das maiores indignidades, ao retirar milhões de mulheres americanas de sua autonomia corporal. Além disso, essa decisão estava profundamente desalinhada com as crenças da maioria dos americanos. De acordo com uma pesquisa Gallup de 2023, um recorde de 69% dos americanos acredita que abortos no primeiro trimestre deveriam ser legais. Diante dessa estatística, é surpreendente que os Democratas não tenham mobilizado de forma mais robusta as pessoas em torno dessa questão. Uma razão para isso pode ser que simplesmente não sabem como fazê-lo.

Histórico e Contexto

Durante décadas, a decisão Roe vs. Wade deu às mulheres americanas um conforto falso: o acesso ao aborto e os direitos reprodutivos podiam permanecer firmemente no domínio das causas feministas. Camisetas com a frase “Mantenha suas mãos fora dos meus direitos reprodutivos” tornaram-se quase tão comuns quanto bolsas com a frase “Girl Boss”. No entanto, embora a maioria dos americanos apoie o acesso ao aborto, o feminismo permanece mais polarizador. Apenas 19% das mulheres se identificam fortemente como feministas. Esse número é bem maior entre as mulheres jovens, mas entre os homens jovens, a palavra tem uma ressonância diferente: o feminismo tem sido explicitamente citado como um fator que as leva à direita. Os Democratas podem não gostar de como isso soa, mas o que eles precisam fazer agora é reformular uma questão vencedora em termos não feministas.

Primeira Ideia: Aborto como Questão de Saúde

Uma maneira de abordar o tema é falar sobre o aborto como um cuidado de saúde que salva vidas, algo que mais mulheres têm feito. O aborto deve ser visto como uma questão de saúde pública vital, algo que pode salvar a vida de muitas mulheres, especialmente em situações de risco de vida. Essa abordagem pode ajudar a despolarizar o debate e atrair pessoas que talvez não se identifiquem com o feminismo, mas que compreendem a importância do acesso à saúde.

Segunda Ideia: Aborto como Questão Familiar

Outra estratégia é tratar o aborto não como uma questão das mulheres, mas como uma questão familiar. Essa é a abordagem do Instituto Nacional de Justiça Reprodutiva Latina (NLIRJ). Por 15 anos, o NLIRJ tem trabalhado em estados como Flórida, Texas e Arizona, treinando líderes comunitários chamados de ‘poderosas‘ para falar com seus vizinhos. As conversas nem sempre começam com o aborto. A maioria dos hispânicos nos Estados Unidos é católica e, apesar de um tabu religioso profundamente enraizado contra o aborto, 62% agora acreditam que o aborto deve ser legal em todos ou na maioria dos casos. Esse número aumentou 14 pontos percentuais desde 2007.

Terceira Ideia: Mudança Cultural e Trabalho de Base

Essa mudança notável é, em parte, uma reação às restrições draconianas ao aborto em vários estados com alta concentração de latinos. Mas grande parte do crédito deve ser atribuída a anos de trabalho de base por organizações como o NLIRJ, que buscam mudar a cultura. “Perguntamos o que os mantém acordados à noite”, disse Lupe Rodríguez, diretora executiva do grupo. Essa pergunta inicial pode revelar problemas em casa ou a falta de eletricidade funcional no bairro. O ponto, segundo Rodríguez, é ir além dos “direitos” individuais e conectar “autonomia reprodutiva e autonomia corporal às condições em que as pessoas vivem, certo? Como se podem ou não alimentar seus filhos, se têm ou não dinheiro para pagar o aluguel – como preocupações cotidianas.”

Conclusão

Para os Democratas, aprender com a abordagem pragmática e inclusiva dos defensores latinos pode ser crucial. Reformular a questão do aborto como um problema que afeta a saúde e o bem-estar de todas as famílias, independentemente das crenças pessoais sobre o feminismo, pode ser a chave para mobilizar eleitores que se preocupam com a saúde de suas famílias e com a capacidade de prosperar. O Partido Republicano parece ter percebido isso; os Democratas não podem se dar ao luxo de ignorar essa lição. Concentrar-se em como essas questões afetam diretamente a vida diária das pessoas pode ser a estratégia mais eficaz para garantir apoio à justiça reprodutiva e aos direitos das mulheres.


Fonte: Abortion Isn’t About Feminism / Atlantic

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

Deixe um comentário