Desigualdades na Adoção de Implantes Cocleares: Um Olhar Crítico

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Cláudio Cordovil

Implantes cocleares são conhecidos por sua capacidade de melhorar significativamente a perda auditiva ao longo de várias décadas. Contudo, a proporção de indivíduos que se enquadram nos critérios para receber tal implante e que efetivamente o obtêm é surpreendentemente baixa. Essa realidade persiste mesmo em nações que dispõem de sistemas universais de saúde, onde as estatísticas de adesão deixam a desejar.

Um estudo recente, focado na análise de hospitais no Reino Unido e publicado na revista PLOS Medicine, revela desigualdades ainda mais acentuadas entre comunidades marginalizadas, especialmente entre pacientes negros e asiáticos. Chloe Swords, uma das autoras do estudo e otorrinolaringologista na Universidade de Cambridge, compartilhou com a STAT que os resultados, embora desalentadores, não foram surpreendentes. Isso aponta para uma consciência do problema que abre caminho para ações corretivas.

Globalmente, mais de um milhão de pessoas já se beneficiaram de um implante coclear, um dispositivo que é implantado sob a pele atrás da orelha e estimula o nervo auditivo, melhorando a audição em casos de perda auditiva severa a profunda. Apesar de certa resistência dentro de algumas comunidades surdas, o implante coclear tornou-se a solução preferencial para crianças nascidas com surdez congênita e oferece benefícios inestimáveis, inclusive na prevenção da demência.

Nos Estados Unidos, estima-se que mais de dois milhões de pessoas poderiam ser ajudadas por um implante coclear, mas apenas cerca de 5% delas realmente recebem o dispositivo. A adoção limitada do implante em muitos países é frequentemente atribuída a barreiras financeiras e culturais. No entanto, um novo estudo publicado na PLOS Medicine destaca como falhas no sistema de encaminhamento e na rede de atendimento também contribuem para a baixa taxa de adoção.

Jacob Hunter, otorrinolaringologista do Hospital Jefferson, em Filadélfia, não envolvido no estudo, observa que o caminho para a obtenção de um implante coclear é complicado e repleto de obstáculos. A pesquisa analisou dados de mais de 6 mil pacientes de clínicas de audiologia e otorrinolaringologia na Grã-Bretanha, identificando que uma parcela significativa dos pacientes elegíveis não recebe o devido encaminhamento.

A situação é ainda mais crítica para certos grupos demográficos, onde pacientes negros ou asiáticos apresentam 40% menos chances de serem considerados elegíveis em comparação com pacientes brancos. Além disso, indivíduos provenientes de regiões mais pobres têm menor probabilidade de serem informados sobre a possibilidade de se submeterem ao procedimento.

Essa jornada rumo à cirurgia de implante coclear envolve múltiplas etapas, cada uma representando uma possível barreira à continuidade do processo. Desde a primeira consulta com um médico de atenção primária até o encaminhamento para um fonoaudiólogo, vários pontos de falha podem desencorajar os pacientes de prosseguirem. A complexidade do processo de encaminhamento evidencia a necessidade de sistemas mais eficientes que facilitem a identificação e o acompanhamento de pacientes elegíveis.

Reconhecendo essas barreiras, tanto do lado dos profissionais de saúde quanto dos pacientes, os autores do estudo enfatizam a importância de superá-las para garantir que mais pessoas possam beneficiar-se desta intervenção transformadora. O compromisso com a pesquisa contínua e o desenvolvimento de estratégias para aumentar a adoção de implantes cocleares são passos fundamentais para abordar esse desafio de saúde pública.


Fonte: Why very few people who are eligible for a cochlear implant actually get one / STAT

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Imagem gerada por Inteligência Artificial

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