Laura Delano e o movimento pela ‘desprescrição’ dos psicofármacos

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Cláudio Cordovil

A história de Laura Delano, contada em reportagem de Ellen Barry para o The New York Times, retrata um movimento crescente: pessoas que decidiram abandonar o uso de medicamentos psiquiátricos e buscam apoio fora do sistema tradicional. Com sua trajetória marcada por 19 medicamentos diferentes entre os 13 e 27 anos de idade, Delano se tornou uma figura central entre os que questionam os tratamentos convencionais.

De paciente a mentora

Delano, formada em Harvard e ex-atleta de squash, abandonou os tratamentos psiquiátricos após concluir que os medicamentos poderiam estar agravando seu sofrimento. Desde então, atua como coach e fundou, com o marido Cooper Davis, a Inner Compass Initiative, uma organização que oferece suporte a quem deseja reduzir ou parar com os psicofármacos.

Ela não é médica, mas seu carisma e vivência pessoal atraíram uma comunidade cada vez maior. Em sessões por Zoom, como as que realiza com Daniel, um advogado em processo de retirada do lítio, Delano oferece um misto de acolhimento, inspiração e relatos pessoais.

Apoio mútuo e riscos envolvidos

A reportagem destaca o crescimento de uma “subcultura DIY” (faça você mesmo) de retirada medicamentosa. Sites como o Surviving Antidepressants fornecem protocolos detalhados de desmame. Até mesmo psiquiatras, como Mark Horowitz, recorreram a essas comunidades para saírem de seus próprios tratamentos.

Apesar do movimento, médicos alertam: a retirada sem supervisão clínica pode causar sintomas graves de abstinência, recaídas e até suicídio. Especialistas também criticam o viés negativo dos recursos fornecidos por iniciativas como a Inner Compass, especialmente para quem lida com quadros severos como esquizofrenia.

Um modelo aspiracional — e controverso

Laura Delano se tornou uma referência entre os que enxergam nos medicamentos uma parte do problema, não da solução. Seu livro Unshrunk e os programas pagos de suporte consolidaram sua imagem. Mas, mesmo mantendo um discurso mais moderado nos últimos anos, a desconfiança em relação à psiquiatria permeia seu projeto.

Ela reconhece os limites de sua atuação — não intervém diretamente em crises, por exemplo — e afirma que não é “anti-medicação”. No entanto, sua história pessoal e o sucesso após a retirada dos medicamentos têm servido como modelo para muitos, como Daniel, que deseja ser “livre”.

Reflexões bioéticas

A narrativa de Delano expõe dilemas éticos sensíveis. De um lado, há o direito à autonomia e à crítica ao excesso de medicalização. De outro, o risco de que experiências individuais se tornem normas em contextos frágeis, sem o suporte clínico adequado.

A reportagem sugere um cenário em transformação, com crescente atenção para o “de-prescribing” (redução racional de medicamentos). Mas também acende o alerta: qualquer mudança nesse campo exige responsabilidade, escuta atenta e compromisso com a segurança dos pacientes.

🔍 O caso de Delano evidencia o quanto o campo da saúde mental precisa equilibrar ciência, experiência e ética na escuta dos que buscam alternativas.


Fonte: Leading a Movement Away From Psychiatric Medication / The New York Times

Este artigo foi criado em colaboração entre Cláudio Cordovil e Chat GPT-4

Foto de Hal Gatewood na Unsplash

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